Durante cinco anos assessoramos, no Espírito Santo, os eventos do Dilson Stein, o “descobridor” da Gisele Bundchen. Aprendemos muito com o cara de projeção internacional.
Soubemos rapidinho que a Gisele não deve ser chamada de “modelo”. O correto é Ubermodel. Para que acrescentamos isso ao nosso conhecimento, sinceramente, não sei, parceiro. Mas, “faz parte”.
Alguns fatos ficaram desta convivência. Um dia estávamos no escritório, em Jardim Camburi, e chegou carro dos Correios para nos entregar três caixas enormes com camisas, cadernos, agendas, canetas e mochilas, sem sequer sabermos quem nos havia remetido.
Achamos estranho para caramba, mas horas depois veio a ligação que deveríamos deixar as caixas no hotel do representante do Dilson.
Putz, pensamos: o que seria, então, da “Convenção de Modelos” se não estivéssemos ali? Foi sorte pura.
Na época assessorávamos também a Desportiva, a Confederação Brasileira de Triathlon e a Federação de Beach Soccer e, portanto, pouco parávamos no escritório.
Este pessoal do mundo da moda é muito veloz. Pode crer. Geralmente, em outra cidade, nos pedia para comprar chip de celular e enviar pelos Correios.
De lá fazia as contratações necessárias para o evento.
A “Convenção de Modelos” é, mais ou menos, assim: o pai ou a mãe levam, na inscrição, cinco quilos de arroz, que são doados, e a modelo é avaliada.
O representante do Dilson faz a transmissão daqui e ele observa lá em Curitiba. Mas ele também seleciona pessoalmente. Conosco ocorreu uma vez, em Vila Velha.
Se passar no teste regional, é encaminhada para as maiores agências do país.
Se for aprovada, após observações rigorosas, é contratada. E pode atuar, futuramente, nas principais agências do planeta.
A agência do Dilson é considerada uma das melhores do mundo neste aspecto. Com a crise financeira não sei como anda hoje. A moda foi afetada de forma determinante é o que tenho lido.
Assessoramos quatro convenções em Vitória, uma em Vila Velha, Cachoeiro e Linhares.
Em uma edição meu telefone celular entrou junto da matéria para contatos. Recebi dezenas de ligações naquele final de semana e minha vida virou um inferno.
Algumas ligações bem sugestivas de mamães afoitas. Mal sabiam que, pobre de mim, só sei selecionar, mais ou menos, a marca da cerveja.
Teve edições que avaliaram mais de 2 mil candidatas a modelo. Imagine o quanto arrecadaram de arroz?
Os sacos ficavam em sala do hotel que sediava o evento. E a Kombi da instituição de caridade tinha que dar, às vezes, três viagens.
Naquela época, arroz não custava ouro. E a galera doava sem problemas.
Só podiam participar meninas e meninos com mais de 13 anos, mas as mamães forçavam a barra, levando gente de oito, nove e dez anos.
Alegavam que as meninas “levavam jeito e sonhavam em ser modelos desde que nasceram”. Deus do céu!
Olhando bem, algumas nem sabiam o que faziam ali.
Apareciam nas convenções gente de todo o Espírito Santo e também de cidades vizinhas de outros Estados.
Era fácil observar que o que buscava a equipe do Dilson era meninas altas e magras e com rosto diferente, expressivo.
Baixinha só se tivesse rosto absurdamente lindo.
Acontece que mais de 99% das meninas que apareciam lá não tinham nenhum dos requisitos.
Resultado: das sete edições que trabalhamos, o número de meninas aprovadas não chegou nem ao dos dedos das mãos.
Mas pelo menos arrecadou-se muito arroz. Se acontecesse nos dias atuais, as instituições filantrópicas teriam pequenas fortunas em suas dispensas. Não é verdade?
Um dia o ator Sidney Sampaio de Souza, com quem Dilson tinha parceria, esteve em Vitória para ministrar palestra. O Dilson ficou chateado porque não “cobrimos” o evento, que aconteceu em um final de semana “daqueles” repleto de violência, praia e notícias a cada esquina. Entendi o lado dele.
Mas, não fomos pautados. E nem combinamos o “cascalho”. Perdi a conta, mas preservei o bom senso. Até hoje duvido se emplacaria em algum lugar matéria com o ator Sidney Sampaio de Souza.
E a vida seguiu. Não sou muito bom para o mundo fashion. Não precisam nem me dizer.
Mas, de modo geral, foi bom estar perto do descobridor da Gisele. Sujeito visionário que, mesmo sem arco-íris, sabe onde está o pote de ouro.