E até hoje, nós e mais, pelo menos, 30 pais de famílias não vimos a cor do dinheiro. Foto: Peter Falcão
Peço perdão aos entusiastas, mas temos que encarar de frente a realidade. Calote no futebol capixaba é mato.
Assessorávamos a Desportiva, que não havia conseguido vaga nas semifinais do Capixabão.
Então, estávamos meio "relax", trabalhando somente para a Confederação Brasileira de Triathlon e a Federação de Beach Soccer do ES.
O telefone tocou e presidente de clube coirmão da Grande Vitória nos convidou para assessorarmos o time durante 15 dias, exatamente nas semifinais. Combinamos o valor do serviço e iniciamos o trabalho.
Cobrimos treinos com fotos e textos e fomos aos dois jogos da semifinal, um em São Mateus.
O clube ficou pelo caminho. E até hoje, nós e mais, pelo menos, 30 pais de famílias não vimos a cor do dinheiro.
Anos depois, este presidente de clube pisou na arena da Praia de Camburi para prestigiar seu time em torneio nacional de beach soccer.
Tive vontade de enfiar-lhe um balaço no chifre, mas me contive.
Caminhando no calçadão da Praia de Camburi encontrei técnico consagrado do futebol capixaba com quem trabalhei na Desportiva.
E ele me contou que clube do interior, que conduziu ao título, tinha presidente com hábitos parecidos.
A grana de dois meses de trabalho e da premiação foi entregue pessoalmente pelo dirigente em sacola de pão. Ele ficou feliz da vida. Mirou o carro do outro lado da rua pensando em acelerar fundo rumo à capital.
Só que o seu meia de criação o convidou para almoçar galinha caipira que a esposa havia especialmente preparado. Sem querer desapontar a madame, ele aceitou o convite.
Após as despedidas de praxe, este técnico consagrado, já na calçada, a dois metros do Escort vermelho, foi abordado pelo dirigente.
"Rapaz, tenho que realizar vários pagamentos e estou sem trocado. Tem jogador para caramba me esperando. Segura este cheque e me devolve aquele dinheiro", disse ao lado de dois brutamontes.
A transação foi feita. E o cheque segue sem fundos até hoje. Os presidentes estão por aí. Cidadãos de bem, concedendo entrevistas, preocupados com o futuro do futebol capixaba.
Duvido quem faça parte deste segmento que não conheça uma história sequer de calote no futebol capixaba.
Conheço dezenas delas. Que pena. Sinto alegria nenhuma nisso.