31/05/2021 às 07h12min - Atualizada em 31/05/2021 às 07h12min
O engodo da educação na pandemia
Abandonar o faz de conta e cair na realidade
- Everaldo Barreto Moura é Pensador e professor de Filosofia
Filosofia na Veia
Essa luta ´tem como front a burocracia estatal e a sala de aula.Foto: Ilustração Web. Os conflitos de interesses em nossa sociedade levaram ao agravamento da crise na educação que vivemos desde o Estado Moderno, durante esse período de pandemia.
Existe uma luta estabelecida entre educadores(as) e os políticos no Estado Moderno, muito bem refletida por Hannah Arendt em seu texto clássico A crise na educação. Segundo a filósofa o Estado Moderno precariza a educação integral em favor de uma educação utilitária, que vislumbre a preparação do educando, não para a vida como um todo, mas para o mercado de trabalho.
Essa luta ´tem como front a burocracia estatal e a sala de aula.
Educadores (as) conscientes utilizam uma margem de manobra para cumprir suaresponsabilidade com aqueles a quem deve apresentar o mundo, sem ferir os “regulamentos da moda” inseridos pelos políticos, principalmente em nossa democracia em que eles representam não a população, mas seus grupos de interesse. Por isso estamos sempre assistindo idas e voltas na educação.
A pandemia do novo Coronavírus complicou ainda mais a questão. Aqui em nosso Estado as aulas presenciais foram suspensas em março de 2020 e retornaram em outubro do mesmo ano, sendo novamente suspensas em março de 2021 perdurando até hoje em alguns municípios.
Embora tenha se estabelecido o ensino remoto, sabemos que em nosso país a internet não é de uso popular, mas somente de uma certa classe social para cima, o que deixa de fora uma grande parcela dos estudantes. Enfim, fizemos de conta que fechamos o ano letivo de 2020 em fevereiro de 2021 com a orientação de não reprovação de alunos e condensação dos conteúdos daquele tempo perdido nos anos seguintes.
Já de início, para as turmas de terceiro ano/etapa do ensino médio não tem ano seguinte, mas quero salientar uma realidade ainda pior: a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos – EJA que reduz o tempo de escolarização em 50%. Com esse para e volta, revezamento de turmas presenciais, fragmentação de conteúdos e incerteza de continuidade o aproveitamento cai drasticamente.
Os educadores e educadoras responsáveis lamentam a perda, mas são impotentes na questão que é decidida pelos políticos.Esses voltados à defesa de seus grupos de apoio não enxergam a educação com a responsabilidade necessária e, atendendo aos interesses econômicos da “indústria da educação”, mantém o funcionamento precário como “normal” e a vida segue.
As consequências maiores serão para as classes mais baixas da pirâmide social, exatamente aquela que conta com a educação como possibilidade para ascender socialmente, que não pode assistir aula online e vê sua formação se distanciando cada vez mais, em um sistema de competição voraz e selvagem que se esconde no discurso vazio da meritocracia.
No mais claro português, a educação online, semipresencial e intermitente que tivemos desde 15 de março de 2020 para os alunos da escola pública e de baixa renda foi uma verdadeira enganação e melhor seria para esse corpo de estudantes que refizessem as séries do período.