Quando o Sávio era menino e iniciava vida no futebol carioca, ele o levava na redação, orgulhoso. E sua alegria nos contagiava.
Um dia fui pautado para o entrevistar sobre possibilidade de o Sávio, estrela do Flamengo, ser contratado pelo Real Madrid. Havia burburinho frenético sobre o tema na imprensa.
A estratégia que tracei foi cansá-lo com turbilhão de perguntas visando a arrancar confissão indiscreta. Levei 15 perguntas anotadas no bloquinho com logomarca da Rede Gazeta, onde trabalhava.
Chegando ao seu supermercado, antes mesmo de ligar o gravador, ele lançou no ar. “Repórter, está tudo acertado. Sávio viaja dia 15 para exames médicos”.
Sinceramente, me senti desarmado. O que fazer com aquele punhado de perguntas?
Colhi detalhes sobre a viagem e mais informações, mesmo à distância, do sentimento do atleta, dele e demais familiares.
Fiz bela matéria. No outro dia, o saudoso Sarcinelli mexeu comigo. “Ed, você deu furo nacional”, fiquei contente, embora o Sarci ainda insistisse em me chamar de Ed Motta, meu apelido da época de estagiário.
Sávio, campeão mundial pelo Real, veio passar férias com a família e Seu Mazinho nos ligou para divulgar jogo amistoso de Amigos do Sávio versus seleção de Patrimônio de Santo Antônio, distrito de Santa Teresa, onde ainda residiam parentes e amigos.
“Você é meu convidado, repórter. Vamos servir almoço depois”, disse.
Fomos lá, eu e meu amigo e repórter fotográfico Chico Guedes. O calor estava infernal. O amistoso foi até rápido. Longa foi a viagem. Então, a volta “prometia”.
Acabou a partida e fomos para cima visando a ouvir o Sávio ainda em campo. Ele pediu para o entrevistarmos na casa onde a família estava hospedada. O jornalista sabe que quando ouve algo parecido está prestes a se lascar.
E, como prevíamos, o Sávio esqueceu de nós. Ficamos esperando um tempão, mandamos recado, e nada do atacante.
Foi quando surgiu o Seu Mazinho e nos ofereceu de tudo, com imensa cordialidade. Agradecemos e falamos que queríamos somente ouvir o seu filho.
Ele fez cara de quem não entendia tamanha dificuldade para cinco minutos de boa prosa.
Entrou na casa e em menos de um minuto o Sávio apareceu, bastante cordial.
Então, subimos a serra de volta para a redação.
No outro dia, o jornal rodou com poucas páginas, devido à alta do papel. O editor usou somente uma foto e a fala do Sávio desapareceu do texto, de tão cortado.
Mesmo assim, obrigado Seu Mazinho por tamanha doçura e fino trato com o “repórter”.