06/11/2020 às 17h53min - Atualizada em 06/11/2020 às 17h53min

Há 48 anos: 1972 - Operação Mutum-MG

Os irmãos Lamarca, Geraldo e José, foram presos por pistolagem

- Por: Paulo César Dutra (Cesinha).
Mutum fica próximo aos municípios capixabas de Baixo Guandu, Colatina e Pancas. Foto: Paulo César Dutra
 O município de Mutum, do Estado de Minas Gerais, que ficava na Zona do Contestado e era considerado região do Estado do Espírito Santo,  uma das bases de esconderijo dos “coronéis”, pistoleiros e jagunços capixabas, por ser vizinho dos municípios capixabas tinha uma estreita relação com o Estado do  Espírito Santo, na área comercial, mas no crime de mando.

Ou seja,  os pistoleiros ou jagunços de Mutum participavam de execuções em terras capixabas, principalmente nas áreas do Contestado(*).  já foi conhecida de forma pejorativa, como “Matum”, devido à grande incidência de crimes de pistolagem que ocorria naquela região, desde os primórdios do século passado, quando os “coronéis” imperavam pelo poder de suas armas e jagunços.

Dentro desse triste histórico, foi assassinado por pistoleiros o prefeito Gentil Simões Caldeira. Alguns diziam que em “Mutum, pistoleiro matava um de manhã e deixava outro amarrado no toco para matar à tarde”.
 
Como a política sempre foi muito poderosa, Mutum foi convivendo com suas mortes e o acobertamento dos responsáveis, que dificilmente respondiam pelos seus crimes. No entanto, estamos falando dos anos 70, quando as reações já eram diferentes das décadas de 30 ou 40 e por isso, a morte do prefeito Gentil Simões Caldeira, ganhou notoriedade e cobrança de toda a sociedade pela forma covarde do assassinato. Em seguida, também por questões políticas mataram o vereador Emídio José Pereira, durante convenção partidária.

A imprensa nacional alardeava os crimes de Mutum. Os delegados Renato Aragão e Luigi de Oliveira foram designados para as apurações e relataram o clima de revolta e insegurança na cidade. Foi então, decidido pela cúpula da Secretaria de Segurança, tendo como chefe da pasta o Coronel Odelmo Teixeira, Thacir Menezes Sia, Superintendente Geral, Cid Nelson Safe, pelo DOPS e Ediraldo Brandão, pela COSEG, que fosse desencadeada a “Operação Mutum”. Seria a primeira macro operação a ser desencadeada pela Polícia Civil de Minas Gerais.
 
As fotos registram diversos momentos da primeira grande operação da Polícia Civil no interior de Minas. Dentre os policiais aqui identificados, registramos os investigadores João Reis, Adão "Pezão", Itamar Thiago e os delegados Braúna e Prata Neto.
 
           
Planejamento Operacional
 
 A coordenação geral do Superintendente Geral Thacir Menezes e a gerencia operacional do Chefe do Departamento de Investigações, Prata Neto presentes em todas as fases da operação. Também participaram, os delegados Luigi (Delegacia de Vadiagem) e Braúna (chefe da REDI e ex-delegado de Aimorés), Ediraldo Brandão e Airton Garcia, pelo DOPS. Escolheram a semana de comemorações dos 150 anos da independência do Brasil, em 1972, para deflagrar a operação, buscando dar um sentimento de liberdade à população de Mutum, como foco dos trabalhos.
 
O planejamento dividiu a operação em seis setores:
 
Setor 1: Era a coordenação da operação, tendo seu QG montado no Clube Recreativo, centro da cidade.
 
Setor: 2- Foi incumbido do tramite das apreensões de veículos roubados, furtados, ou em situação irregular. Era muito comum o veículo ser roubado no Espírito Santo e levado para receptadores de Mutum. A fronteira fica Há menos de 50 quilômetros da cidade e era utilizado, principalmente, na zona rural o que facilitava a entrada dos mesmos em nosso estado e sua circulação ilegal.
 
Setor 3: Responsável pelo controle de entrada e saída de pessoas da cidade durante a operação. Fazia a identificação do cidadão e expediu mais de 1500 salvo conduto e carteiras de identidades.
 
Setor 4: Os policiais eram responsáveis pela identificação criminal, pesquisas e cumprimento de mandados de prisão expedidos pela justiça. Braúna foi o responsável pelo setor.
 
Setor 5: Todo o sistema de comunicações usado durante a operação ficou a cargo do inspetor Pantuzo e sua equipe. Montaram uma antena de 20 metros para contatos entre o QG, os rádios-comunicadores e o Brucutu (ônibus operacional do DOPS).
 
Setor 6: Tinha como função a manutenção dos veículos oficiais usados na operação, tendo atuado, já no caminho de ida, quando duas viaturas apresentaram defeito mecânico.
 
A operação, no planejamento 004/72, da COSEG, contou com 4 carros do DOPS, 3 do DI e 2 da COSEG. O DI forneceu 26 homens, a COSEG 6, Instituto de Identificação 1, Trânsito 3, perícia 1, o DOPS entrou com 14 policiais e 3 cães adestrados.
 
       A Polícia Militar participou da operação com sua atividade de policiamento ostensivo, através do Batalhão de Manhuaçu, com número não superior ao de policiais civis. Cuidavam prioritariamente das seis saídas e entradas de Mutum.
 
 
A Operação
 
       Cerca de 100 policiais civis e militares participaram da operação, com suas metralhadoras INA e carabinas. Detetives e delegados com cinturões de couro preto e revólveres COLT 45 nos coldres. Chegaram a Mutum na madrugada do sábado, que antecedeu o 7 de Setembro de 1972. O objetivo era o desarmamento da população e a prisão de criminosos que se tornaram alvos no planejamento realizado na capital. Tão logo a comitiva de policiais chegou a Mutum, já se espalhou pela cidade e zona rural, tendo como resultado, ao final do dia, a apreensão de diversos carros furtados, prisão dos criminosos Joaquim Mário Pinto, Otacílio Alves Faria, Osvaldo Jonas Lifonso, Benivaldo Jonas Lifonso e Olívio Almeida. Na parte da manhã, mais de mil salvo condutos foram expedidos e eram conferidos pelos policiais militares nas saídas da cidade. Quem não tinha o documento era impedido de sair, tinha seu carro vistoriado e às vezes conduzido ao QG.

Carros, casas na zona rural e na cidade, charretes, carros de boi, cavalos, bicicletas, pessoas a pé. Tudo e todos eram revistados e conferidos. Várias mulheres da zona boemia foram conduzidas para interrogatório por envolvimento com pistoleiros e mandantes de crimes, fornecendo importantes informações para localização dos foragidos. Homens em fila indiana entravam a pé em Mutum, escoltados por policiais civis até o QG, onde eram interrogados em uma sala improvisada nos fundos do clube.

Um grupo de escrivães foi escalado para mutirão nos inquéritos antigos de homicídios que abarrotavam a delegacia local. No saldo final, 16 pessoas foram presas, 500 armas apreendidas (carabinas, revólveres, polveiras, garruchas e outras), 800 quilos de munição.Inúmeros homicídios sem autoria foram apurados e confessados pelos pistoleiros e mandantes presos. Outros inquéritos, em que pessoas inocentes eram suspeitas, foram corrigidos responsabilizados os verdadeiros autores.

Os irmãos Lamarca, Geraldo e José, foram presos por pistolagem, sendo uma família relacionada a muitos crimes com vinculação de políticos. Algumas incursões para prisão de bandidos foram feitas em Aimorés, Mantena e Vitória-ES. Aos cuidados do delegado Braúna, outro preso, Dario Aniceto Oliveira, responsável por um derrame de carteiras falsas naquela região.
 
 Operação Mutum- A Preocupação com a Cidadania
 
 Paralelamente, o delegado Ediraldo Brandão se responsabilizava pela parte cívica da operação, coordenando a distribuição de remédios, material escolar e roupas para as pessoas carentes da cidade. Para os meninos de Mutum eram distribuídos bonés coloridos com o símbolo da independência do Brasil por ser a semana da pátria.

Foram levados também, recursos médicos e odontológicos para atendimento da população, além das carteiras de identidades que foram confeccionadas pelo Instituto de Identificação, através do setor 4. Foi realizada, pelos policiais civis, uma demonstração na praça principal com os cães adestrados do DOPS, para a população mutuense e vacinação em massa dos cachorros da cidade.

Os responsáveis eram os competentes detetives do setor de canil Calixto Fernandes e Geraldo Avelino, o “Borracha”, com seus espertos pastores alemães, “Dólar e Hanko do Havaí”. Foi uma festa de cidadania na cidade que contrastava com as inúmeras prisões, interrogatórios e o vai e vem de policiais.
 
“Nas filas para distribuição de roupas e remédios, o povo está mais descontraído. Uma mulher gorda, com uma úlcera na perna, ganhou sulfa, e antes de sair, sorrindo, mandou chamar Ediraldo Brandão para agradecer. Um garotinho preto ganhou calça azul, camisa vermelha listrada, um vidro de xarope e saiu dando pulos. Outro ganhou tênis branco e ficou sentado na calçada, meio encabulado, admirando o presente. Assim está Mutum, desde que o dia amanheceu. Ocupada pela polícia o povo divide a surpresa com a esperança. Surpresa, diante do aparato policial, esperança, por dias de paz, sem banditismo.”
  
Depoimento de Antônio Orfeu Braúna sobre a Operação Mutum
 
"Meu muito querido companheiro e amigo, Antônio Carlos Faria.
 
Sem dúvida que não somos imprescindíveis. Mas fomos, somos e seremos sempre comprometidos com o nosso ideal de, ao preço da própria vida, lutar e defender a segurança de todos contra a criminalidade. Afinal, somos policiais. E policial verdadeiro não tem outro objetivo ou adjetivo. Os interesses pessoais existem. Mas creio que o ideal e o compromisso é que prevalecerão. E é preciso ser testemunhados e ditos, como você faz. Aliás, a gente não faz polícia para, depois, escrever um texto. A gente faz polícia, porque faz polícia. Depois, restam as lembranças e as lacunas da memória, que você foi remexer e que iam se esvaindo com o tempo.
 
Com sua permissão, gostaria de registrar alguns aspectos que, de alguma forma, se relacionam com a chamada Operação Mutum, que é o tema.
 
1. Os “Anos 70”, do início de seu texto, registram dois marcos importantes na visão policial. Prevaleciam os métodos, vindos da revolução de 64 e aprendidos, anteriormente, com o nome de Defesa da Segurança Nacional e, depois, utilizados com a acepção de segurança pública, onde se situa a chamada Operação Mutum e outras atividades policiais mais direcionadas ao combate da criminalidade dita comum. No País inteiro, mesmo que os objetivos fossem diversos, a tradução disto, para o povo (principalmente no interior) chamava-se DOPS (Departamento de Ordem Política e Social). A instituição e o nome Polícia Civil foram absorvidos pela sigla DOPS. Aqui, entre os mineiros, o nome mais representativo do sistema vigente era o do delegado Thacyr Omar Menezes Sia. O “China”, que tivemos oportunidade de conhecer e, de algum modo, trabalhar por muitos anos. O apelido era atribuído aos ancestrais, que seriam chineses. Profissional de polícia política de indiscutível competência operacional – com excelentes equipes. Mas, tinha um outro, não operacional e descendente de israelitas, David Hazan, que também tivemos a sorte de conhecer pessoalmente. Inteligência e disciplina profissionais raríssimas. Sabia dos deveres que haveria de cumprir nas circunstâncias da época. Mas, nunca perdia o foco do papel da polícia na sociedade. Era ele o chefe do DOPS. O Cabeça (com “C” maiúsculo), que cumpria e administrava as funções, buscando reduzir, ao máximo, os prejuízos resultantes das ações. A sociedade e a policia, naqueles tempos, eram “castas” distintas e, em momentos, adversárias.
 
2. De outro lado, como você diz de outro jeito, com a extinção da Guarda Civil e a inexperiência da Polícia Militar para a repressão dos bandidos e crimes, que aumentavam cada vez mais nos grandes centros, outros grandes policiais da época, chefiando Unidades Operacionais de polícia comum ou não política, deram início às atividades mais ostensivas da Polícia Civil nas ruas. Valiam-se da experiência da Guarda Civil e das atividades já exercida por Delegacias Especializadas, como a Furtos e Roubos e a Vadiagem. Aproveitaram-se, sem dúvida, das circunstâncias da época e, principalmente, daqueles que ocupavam o cargo de Secretário de Segurança Pública - coronéis reformados do Exército. Assim é que surgiram as chamadas rondas especializadas compostas por grupos não muito numerosos de policiais civis. Delegados, investigadores e escrivães escolhidos a dedo, de comprovada competência profissional no exercício da polícia judiciária e no combate homem a homem em situações extremas, se necessário. Tudo teve início no DEIC (Departamento Estadual de Investigações Criminais) de São Paulo, com a RUDI (Rondas Unificadas do Departamento de Investigações). Pouco tempo depois, aqui em Belo Horizonte, surgiu a REDI (Rondas Especializadas do Departamento de Investigações), criada pelo delegado Ignácio Gabriel Prata Neto, então chefe do nosso DI, da Lagoinha, e um dos policiais civis mais completos que conheço até hoje. E você sabe que, naquele tempo, existiam muitos outros, cujos nomes não citarei, para não cair nas armadilhas da memória. Mas, guardo-os, nomes e pessoas, indeléveis no meu coração. Como gostamos e era o costume, todos tinham (ou temos ainda temos) apelidos. O do Dr. Prata é “Cigano”, devido as suas características físicas – moreno, alto, bonito, sedutor, postura ereta, jeito manso no falar, bigodes e cabelos “negros, com as asas da Graúna”, amigo até não mais poder. Esse meu chefe, que fraternalmente amo, está vivo ainda, com todas as características e do mesmo jeito. Os bigodes e os cabelos estão azuis escuros. Deve ser coisas do tempo, que faz as cores. Ele vai me matar. Dito isto, lá vai meu depoimento (“intimado e ameaçado”), ou retalhos do que a memória deixou guardada sobre a Operação Mutum.
 
3. Como acima eu disse, o tempo apaga muita coisa de nossa memória. Não lembro de alguns detalhes e nomes de companheiros que estiveram na Operação Mutum que, como você disse, ocorreu em finais de 1972, em razão do assassinato do prefeito Gentil Caldeira. Efetivamente, não participei de qualquer planejamento. Afinal, naquele tempo eu havia acabado de chegar a Belo Horizonte e era delegado classe III, chefiando a REDI, com o saudoso delegado e amigo Jorge Augusto Travassos. Nessa condição fui designado uma espécie de delegado de capturas, uma vez que de todos os policiais civis, eu era aquele que mais conhecia Mutum e seu povo, além de grande parte do Vale do Rio Doce, ou seja, de Conselheiro Pena até a divisa do Espírito Santo, onde agiam os pistoleiros. Fui o primeiro delegado de carreira de Aimorés, com exercício estendido a toda aquela região. O mais próximo companheiro, amigo e colega de turma, era Jacy de Abreu, que estava em Manhuaçu e raramente a gente se via. No Aimorés, além de mim, havia apenas Newton Cerqueira, vindo de Lajinha do Chalé e que se mostrou grande policial, além de escrivão que era, e excelente amigo e companheiro das horas mais difíceis. Conhecia a região, os homens e tudo o mais. Assim, me ensinou o que eu precisava aprender. Na Operação Mutum objetivava principalmente prender aqueles envolvidos com a pistolagem (mandantes, intermediários e executores) e estabelecer um clima de paz na cidade. Os demais delegados eram Dr. Thacyr que, se não me engano, chefiava a COSEG (Coordenação Geral de Segurança), recentemente criada; Dr. Prata Neto, então Chefe do DI e comandante de operações; o velho e saudoso Dr. Luigi de Oliveira Freitas, encarregado da formalização de inquéritos medidas de ordem administrativas como, entre outras, expedição de salvo conduto e problemas de trânsito; e, Dr. Ediraldo Brandão que, na época, era Coordenador de Informações da COSEG, com funções relativas à sua especialidade e contatos com as autoridades locais. E eu, aquele de menor grau hierárquico que, repito, era encarregado, com minha equipe, das capturas. Jamais mexi com trânsito naquela Operação. A informação que lhe deram é falsa. Gozação, por certo, daqueles que sabem que em matéria de trânsito e suas papeladas até hoje sou semi-analfabeto.
 
4. Não consigo lembrar que o velho companheiro Airton Garcia tenha trabalhado na Operação Mutum. Era muita gente e cada delegado, com sua equipe, se encarregava da função que lhe foi determinada ainda aqui em Belo Horizonte, antes de sairmos em comboio de viaturas, no início da noite, em direção a Mutum, pela rodovia BR 262, evitando as estradas de terra. Lembro-me, todavia, do então Major PM Vivaldo Leite de Brito, o “Baiano”, grande policial que se tornou meu amigo até falecer, recentemente, no posto de Coronel. Na época era subcomandante do Batalhão de Manhuaçu. O Comandante era o Coronel Xavier, outro bom profissional de polícia que, se vivo estiver, mora em Governador Valadares. Vivaldo “Baiano”, com seus homens da PMMG, por volta da meia-noite, fez o cerco à cidade ainda antes da gente chegar e lá permaneceu até o final da Operação. Um detalhe:- cerco para ele era cerco mesmo. Ninguém saia se não tivesse salvo conduto. Caboclo danado de bom, esse “Baiano”. Também ele comandava o policiamento ostensivo fardado e, para nos entreter a todos, inclusive da população, ainda levou a banda de música do Batalhão. Não lembro o nome do maestro, mas filho de músico e músico que sou, trago vivo na memória a música que a banda nos acordava todas as manhas – “O Despertar da Montanha” (um tango antigo adaptado para o ritmo de marcha, segundo o multi e excelente músico Hélio Pereira), que nos fazia levantar com o ânimo de um leão bravio. Entre os grandes policiais de todos os níveis, que nos acompanhavam, não posso esquecer dos competentíssimos escrivães (na época), Altair Siqueira, hoje delegado, e José Fernandes Mota, agora falecido. Um outro, que muito nos ajudou, foi o Capitão Silveira que, na ocasião, era o Delegado Especial de Mutum e não participava diretamente da Operação, porque nossa Chefia decidiu não utilizar os policiais daquela área, que continuavam com suas funções normais. Além do mais, era preciso preservá-los distante das coisas que iriam acontecer... e foram muitas coisas. O promotor de Justiça da Comarca de Mutum era o hoje Desembargador aposentado Biazutti. Naquele tempo promotor de Justiça não tinha as manias de ser Delegado de Polícia, como agora. O Dr. Biazutti, com o Juiz de Direito da Comarca (não lembro do nome), nos ajudou bastante. Eu já o conhecia de antes. Mas, o contato com ele e com o Juiz era da competência do velho mestre Dr. Luigi. Dali é que saiam os mandados de busca e apreensão e mandados de prisão, às vezes antes e às vezes depois da ordem judicial. Detalhes pequenos que acho que eles só souberam muito depois.
 
5. Para terminar e sem repetir as coisas que você já disse, vou contar algumas historinhas. Conheci Mutum ainda quando eu era delegado de nossa Aimorés, terra onde você nasceu. Na mesma época, conheci também, pessoalmente, o prefeito Gentil Caldeira, numa viagem de trem, da Vale do Rio Doce, de Aimorés para Belo Horizonte. Estavam ele, Toninho Galvão, prefeito de Aimorés, e o prefeito de Resplendor (acho), Hugo Campos, que depois se elegeu deputado estadual. A viagem era longa e, já que chegaríamos à noite em BH, fomos para o carro restaurante bebericar alguma coisa e bater papo. Seriam poucos meses antes do assassinato e, sem dúvida, nem ele, nem nós tínhamos a menor ideia do que iria acontecer. O assunto sequer foi ventilado e todos sabiam que eu era delegado. Encontrei-o, depois, lá mesmo em Mutum, aonde eu ia regularmente. Imagine: para implantar e difundir um movimento católico, já implantado em Aimorés, com a ajuda do Padre Pedro não sei das quantas, um jovem holandês daquela igreja perto do parque de exposições, e mais dez outros homens da melhor representatividade da sociedade aimoreense. Éramos doze cristãos trabalhando para reduzir as grandes diferenças sociais. Sem alardes. Com testemunhos de vida. E conseguimos alguma coisa. Quando sai de lá, tínhamos uma horta comunitária produtiva, uma oficina de costuras, uma farmacinha, conseguida com remédios dos dois hospitais. Existia um médico chamado Wilson, se não me engano, que era doido por galos de briga. Eu me aproveitava disso e arrancava dele tudo o que era de amostras grátis. Criamos um jornal mensal chamado “O Reflexo”, com colunista social (um gay, da maior competência) e tudo o mais, impresso de graça na única gráfica da cidade, ali na avenida Alfredo Martins da Costa (acho), mesmo nome do saudoso delegado “Fiduca”. E já difundíamos, com nossas famílias, o hábito de visitar, nos finais de semana, os mais pobres e necessitados da cidade, para participarem de tudo, sem a necessidade das esmolas. O negócio era sensacional e me valeu até uma ficha de comunista, que ainda deverá existir nos “arquivos secretos e perdidos” do pessoal de informação.
 
6. Era com esse objetivo que eu visitava Mutum e ia conhecendo as grandes lideranças católicas da cidade, a partir do vigário, cujo nome já nem sei. Nessa condição, no meio da Operação Mutum, para também gerar a confiança da população, eu frequentava as missas aos domingos. Na vã esperança de converter os “hereges” policiais da Operação, eu os convidava para irem comigo. Só um ia – o velho e saudoso amigo, escrivão Mota (José Fernandes). Emérito gozador, ia por pura sacanagem. Sabia rezar, certamente. Mas, ficava mesmo era me observando. Eu comungava e ele olhava. Depois, contava tudo pro resto da turma. Toda hora que ele me via, principalmente depois de alguma operação policial mais arrojada, e fdp gritava:- Viva Jesus. O muito querido sacana deve estar no céu. Mas, garanto, tomou um tremendo chá de cadeira, para explicar pra São Pedro as blasfêmias que irrogou contra este, à sua maneira, seguidor do Cristo, filho de São Jorge (Ogum) e fã de São Paulo, aquele que caiu do cavalo, ambos policiais de suas épocas. Com essas condições, enquanto o Dr. Ediraldo Brandão cuidava, competentemente, da parte política e social da localidade, eu, nas noites, cuidava do moral da tropa, como dizem os militares. Aí o companheiro era o inoxidável santo Altair Siqueira. Pertinho do nosso hotel, numa esquina da praça principal de Mutum, havia um restaurante dançante, sério, onde as moças e rapazes de Mutum se reuniam todas as noites. Era atrás da pensão onde a gente almoçava.
 
O Altair, lógico, descobriu. E lá a gente ia. Afinal, eu conhecia e era conhecido da moçada. Apresentei todos ao povo que me conhecia. Esse querido e culto crioulo, de estilo machadiano, descobriu até cachoeiras da região. Dessas coisas, se você quiser pedir, talvez ele fale.
 
Sobre o pistoleiro Lamarca, o João Reis, “Sete Bóias”, saberá contar muito melhor. Já nem sei o primeiro nome do homem. Mas, era o bicho. E soubemos que ele, “premiado”, estava no Espírito Santo, cidade ou bairro perto de Vitória. Acho que Serra. Nosso pessoal de informação babava. O homem era irmão do Capitão Lamarca. Nós, chamados “pés de poeira”, queríamos era o homem. O “cão” e temido pistoleiro, sem ideologia política, mas de boa linhagem.
 
O chefe Prata Neto, que sabe e sempre soube “lavrar o eito da formosura” de seus policiais. (A frase, grifada, é do poeta Carlos Roberto Lacerda, amigo e colega de turma da Faculdade de Direito de Uberaba). Aí mandou a mim, e mais três outros homens, para capturar o dito cujo, de pré-nome que nem sei. Serra é uma espécie de Venda Nova e, do homem, o que a gente sabia era que era um exímio funileiro. “Sete Bóias” logo descobriu o lugar que ele frequentava. À noite, lá estávamos nós. E João Reis, na sua inteligência privilegiada, sentiu o homem, na hora que ele chegou. E rolou o papo certo, dentro do tema. Convenceu o tal Lamarca a nos acompanhar. Era Lamarca, “Sete Bóias” e eu andando. Lá na frente, nossa viatura, caracterizada, e mais dois homens, que me penitencio por não guardar seus nomes. Tudo pronto. Íamos nós. Perto da viatura, gritei:- Reis, pegue o homem, eu, à esquerda, tiro as armas. Foi o dito e o feito. E saímos, à toda, rumo a Minas. A Polícia do Espírito Santo nem sabia. Nessas horas a gente não deseja tiros, que poderão vir. O tal Lamarca foi entregue, ileso, ao nosso chefe, Dr. Prata Neto.
 
Pronto. Mas, apenas para cutucar a “mansidão” do mais privilegiado e culto policial de informação que conheço – Dr. Ediraldo Brandão. Resumindo, fui escalado para a captura de um pistoleiro, que não é qualquer bandido. Ele desejou ir. Dr. Thacyr mandou. Eu ponderei ao Dr. Prata que ele não fosse. A coisa era braba. Eu nunca tinha ouvido falar, como até hoje, que ele fosse homem de operação e, sendo meu superior hierárquico, iria ele no comando. Tá doido, moço! Dr. Ediraldo, afinal, não foi. Ele, no seu velho e conhecido estilo, vai me xingar. Mas, foi isso mesmo."
Antonio Orfeu Braúna.
 
 
  Dados de Mutum
 
Faz divisa com os municípios mineiros de Lajinha, Chalé, Conceição de Ipanema, Ipanema, Pocrane, Taparuba e Aimorés, e os municípios capixabas de Brejetuba, Ibatiba e Afonso Claudio. Fica próximo aos municípios capixabas de Baixo Guandu, Colatina e Pancas.
 
Os primeiros habitantes de Mutum foram os índios Botocudos, que vieram da região do recôncavo baiano, expulsos pelos índios guaranis por motivos bélicos. Durante o início do século XIX, em 1809, a região deixou de ser "proibida" pela coroa, então os povos começaram a se aproximar pelo Rio Pardo (hoje o município de Iúna-ES, os primeiros a se instalarem eram tropeiros, com suas vestimentas características do costume crioulo, criavam rancharias e no lombo dos burros, levavam a produção e traziam bens de consumo, foi se formando pequenas estalagens, vieram os jesuítas e vigários, construíram-se as pequenas Capelas, formou-se a pequena vila, que nos fins de semana recebia gente que vinha para a Capela e comprava bens, veio o mercado. as suas festas eram no mês de Junho (junina de São João)ali comia-se torresmos, farinha e bolos, churrascos, broas e batatas. A dança era a quadrilha, o congo.e o boi bumbá foi, e ainda são as tradições folclóricas mais importantes. Mutum fica na região que outrora foi denominada Região das Matas. Cidade com muitas belezas naturais, incluindo inúmeras cachoeiras, tornou-se ponto atrativo para quem gosta da natureza. O município conta com atrações turísticas não muito conhecidas, tal como um parque arqueológico indígena que foi descoberto pela Família dos Rodrigues da Fonseca. Conta nos dias de hoje com uma grande festa que se dá no mês de Julho, uma Exposição Agropecuária. Na mesma data, é realizado o encontro do mutuense ausente, época na qual os que aí nasceram e vivem longe, voltam para rever a terra natal, os amigos e as mudanças que vêm acontecendo no município.
 
Etimologia
 
O topônimo Mutum se deve à abundância do pássaro homônimo na região na época da fundação da cidade. Mutum é a designação comum às aves galiformes da família dos cracídeos, florestais, dos gêneros Crax e Mitu, sendo várias espécies dessas aves ameaçadas de extinção. Tais animais possuem uma plumagem geralmente negra, com topete com penas encrespadas ou lisas e bico com cores vivas.
 
História
 
Os primeiros habitantes de Mutum foram os índios Botocudos, que vieram da região do recôncavo baiano, expulsos pelos índios guaranis por motivos bélicos. Durante o início do século XIX, em 1809, a região deixou de ser "proibida" pela coroa, então os povos começaram a se aproximar pelo Rio Pardo (hoje o município de Iúna-ES, os primeiros a se instalarem eram tropeiros, com suas vestimentas características do costume crioulo, criavam rancharias e no lombo dos burros, levavam a produção e traziam bens de consumo, foi se formando pequenas estalagens, vieram os jesuítas e vigários, construíram-se as pequenas Capelas, formou-se a pequena vila, que nos fins de semana recebia gente que vinha para a Capela e comprava bens, veio o mercado. as suas festas eram no mês de Junho (junina de São João)ali comia-se torresmos, farinha e bolos, churrascos, broas e batatas. A dança era a quadrilha, o congo.e o boi bumbá foi, e ainda são as tradições folclóricas mais importantes. Mutum fica na região que outrora foi denominada Região das Matas. Cidade com muitas belezas naturais, incluindo inúmeras cachoeiras, tornou-se ponto atrativo para quem gosta da natureza. O município conta com atrações turísticas não muito conhecidas, tal como um parque arqueológico indígena que foi descoberto pela Família dos Rodrigues da Fonseca. Conta nos dias de hoje com uma grande festa que se dá no mês de Julho, uma Exposição Agropecuária. Na mesma data, é realizado o encontro do mutuense ausente, época na qual os que aí nasceram e vivem longe, voltam para rever a terra natal, os amigos e as mudanças que vêm acontecendo no município.
 
Geografia
 
Mutum é segundo maior Município da Zona da Mata mineira, em área territorial, perdendo apenas para Juiz de Fora. Sua população informada segundo dados do censo 2010 é de 26.661 habitantes. Sendo: População feminina 13.186; População masculina 13.475; População urbana 13.871 e População rural 12.871.
 
Localização geográfica
 
O município de Mutum localiza se na região do Rio Doce do Estado de Minas Gerais e pertence a microrregião homogênea Vertente Ocidental do Caparaó.Possui uma área de 1.256,08 km², sendo limitado ao norte pelos municípios de Aimorés e Pocrane,ao sul pelos municípios de Chalé e Lajinha, a leste por Ibatiba (ES), Brejetuba (ES) e Afonso Cláudio (ES) e a oeste por Taparuba e Conceição de Ipanema.O município possui 6 distritos; Sede, Ocidente, Roseiral (que tem seu cartório constituído em 28 de agosto de 1892), Centenário, Humaitá e Imbiruçu, 4 povoados; Santa Rita, Santa Maria, Santa Efigênia, Lajinha do Mutum e 54 comunidades.
 
A sede do município encontra se a 240 metros de altitude e tem sua posição determinada pelas coordenadas 19°49’01" Latitude Sul e 41°26’18" Longitude Oeste.
 
Mutum é servida pela rodovia MG-108 que faz ligação com a BR-262 na direção sul, asfaltada e na direção norte, com a BR-474 que dá acesso a cidade de Aimorés, parte asfaltada 42 km e parte sem asfalto 28 km.
 
Hidrografia
 
É banhada pelos rios São Manoel, Mutum e José Pedro.
 
Relevo
 
Seu relevo é composto em parte por várzeas, influência das baixadas do Rio Doce onde podemos encontrar várias lagoas e, em parte por montanhas. O Município é o limite onde terminam as baixadas e começam as elevações que vão terminar na Serra do Caparaó. No Município há várias elevações onde destacam-se: a Pedra Pirraça ou Pedra Santa (localizada no Distrito de Imbiruçu), na pedra foi construída, pelo carpinteiro Teófilo Belmiro, uma pequena igreja de madeira fincada em pequenos furos feitos na pedra com ferramentas rudimentares, dedicada a Nossa Senhora do Montserrat, que foi destruída pelo vento e pelo tempo, outras duas vezes foram construídas igrejas, que novamente foram destruídas, atualmente temos uma nova feita em alvenaria. No alto da pedra brota uma água que nunca seca, considerada santa, guardada por uma imagem ), a Pedra do Gaspar, a Pedra de Santa Elisa e principalmente a Pedra Invejada, uma das mais belas paisagens do interior mineiro. porém a região dos distritos de Roseiral, Humaitá e Imbiruçu, são de solo roxo e vermelho, montanhoso, com altitudes que chegam a mais de 1.000 metros do nível do mar. Com grandes serras e produção de café das montanhas. a neblina pela manhã e as tardes amareladas são comuns nos montes durante o pôr so sol do mês de junho.
 
Devido ao desnível entre a baixada e as elevações, no Município existem várias e belas cachoeiras, principalmente no Rio São Manoel.
 
Clima
 
O clima de Mutum é mesotérmico, do tipo tropical úmido. Situado nos limites meridionais da Zona Intertropical, apresenta significativas variações entre as temperaturas media anual, media máxima anual e media mínima anual.O verão é muito quente, com medias oscilando entre 22 °C e 31 °C.A temperatura nos três meses mais frios é de 19 °C,essas variações ocorrem devido às variações de altitude e influência das massas de ar.
 
Vegetação
 
A vegetação predominante no município é a de Mata Atlântica. Suas árvores mais altas atingem geralmente de 25 a 30 metros de altura. Predomina a floresta subcaducifólia tropical, rica em cipós e epífitas. A peroba (Aspidosperma sp.), o Cedro (Cedrella spp), o Jacarandá (Machaerium villosum), o Palmito (Euterpe edulis), o Pau-Brasil (Caesalpina echinata) e o Ipê amarelo (Tabebuia sp) foram espécies exploradas na Mata Atlântica.
 
Além de madeira, a Mata Atlântica contribuiu muito com seus solos para o desenvolvimento econômico do Município. A maior parte deles pertence ao grupo dos latossolos vermelho-amarelos, entre os quais se inclui a terra roxa, propícia ao cultivo do café e nos quais se instalaram várias culturas tais como; cana-de-açúcar, milho, arroz e feijão. No que tange às pastagens, o capim colonião (Panicum maximum) vegeta de forma agressiva quase naturalmente, apresentando elevado potencial nutritivo.
 
Infelizmente o Município está sendo invadido por plantações de eucaliptos que destrói a vegetação nativa, transformando numa monovegetação. O eucalipto está contribuindo para o êxodo rural, devido ao fato de não gerar mão de obra no campo, uma vez que só há trabalho na plantação e na colheita (corte) que é feita por máquinas.
 
Outro mal que a plantação de eucaliptos causa, é o extermínio da produção de café e cereais que serviria para a alimentação, bem como ocupa os antigos pastos extinguindo a criação de gado que é tradicional na região, além da destruição da fauna nativa, que fica sem alimentos e seu habitat.
 
Economia
 
Mutum é um município cujo principal setor econômico é o agropecuário, com base produtiva primária assentada principalmente na produção de café, milho e feijão, além de importante rebanho de gado.
 
Esporte
 
O município de Mutum conta com Ginásio Poliesportivo, no qual sofreu com tempestades e acabou desabando em setembro de 2015. O município atualmente só conta com equipes amadoras, porém a que mais faz sucesso e o Esporte Clube Mutum, que está a dispor da FMF(Federação Mineira de Futebol) para uma possível filiação.
 
Cidadãos Ilustres
 
Levy Fidelix: Político brasileiro, fundador e presidente do PRTB;

Vinícius Eutrópio: Treinador de Futebol, chegou a treinar grandes equipes do Brasil, como Atlético Paranaense, América Mineiro e Fluminense. Além de treinar equipes no exterior como a Portuguesa Estoril é ser auxiliar técnico de seleções nacionais, exemplo da África do Sul durante o Mundial de 2010.

  
“As matérias pesquisadas para este teto são dos Jornais Estado de Minas e Diário da Tarde, feitas pelos  Repórteres policiais que fizeram a cobertura: Fernando Zuba, Ricardo Menezes e o fotógrafo Alvimar de Freitas”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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