28/08/2022 às 18h47min - Atualizada em 28/08/2022 às 18h47min

​Colatina nasceu na praia. E já teve praia.

- Nilo Tardin
DDC News
Igreja dos Reis Magos em Nova Almeida funcionava como cadeia e câmara na era imperial. Foto: Iphan - Divulgação

 
Está explicado o fascínio que o colatinense tem pela secular Nova Almeida, distrito histórico da orla do município da Serra, no litoral norte do Espírito Santo.
Colatina nasceu na praia. A lei que criou a Vila de Linhares na inexplorada área onde está situada hoje a icônica Colatina, foi promulgada a 22 de agosto de 1833 na Igreja dos Reis Magos, no balneário de Nova Almeida.

- Depois de empossada perante a Câmara dos Reis Magos era realizada a sua primeira sessão.  Daí o início da vida político-administrativo de Linhares. Abrangia o município todo Rio Doce, de Guandu a Regência, relata o advogado Xenócrates Calmon no artigo "O Centenário de Colatina".
Xenócrates Calmon D’Águiar  foi vereador presidente da Câmara de Colatina de 1924 a 1927.

O artigo dele foi publicado no Boletim Número 7, do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo (IHGES) de 1933. Comprova de carteirada que Colatina nasceu na praia. E já foi banhada pelo mar.

Pela lei 1.037 publicada de 30 de dezembro de 1921 a Vila de Linhares passou a se chamar Colatina.  

Ou seja Linhares foi extinto. Portanto, até a recriação de Linhares em 31 de dezembro de 1943, Colatina nadou de braçada a beira mar durante 22 anos.
As sete esplendorosas praias linharenses eram nossas: Regência, Urussuquara, Pontal do Ipiranga, Barra Seca, Degredo, Povoação, Cacimbas e Monsarás.
O prefeito da época Paulo Teixeira Leite de Vasconcelos (1943 a 1945) pelo visto deixou de lado ou não quis mexer no caso. Ou seja, garantir a cidade uma saída para o mar. Ficamos sem um palmo de areia no litoral. Mas o troco foi dado. Os colatinenses invadiram Nova Almeida.

O quiprocó entre Linhares em Colatina era antigo. Em 1907, o coronel Alexandre Calmon, o Xandoca mudou na marra a sede de Linhares para Colatina.
É que Colatina avançava a passo gigantesco com a chegada da estrada de ferro. A galera do legislativo, judiciário e executivo veio junto como pode. De navio, tropa de burro ou pé pela mata.
O crescimento foi tão expressivo que no início do Século 20, a administração sob a competência de Linhares, passou de vez para Colatina. Foi uma época marcada por conspirações, lutas e revoltas pelo domínio político de ¼ do território capixaba.

O colatinense Fernando Achiamé também confirma com que uma sessão solene na Câmara dos Reis Magos em Nova Almeida, bateu o martelo para criar o território de Linhares em 1833.

Doutor em História, Achiamé revela que nos últimos 100 anos, os fatores preponderantes no crescimento de Colatina foram a Madeira, extremamente farta naquela imensidão verde, a navegação do Rio Doce, a Estrada de Ferro e o Café.
 
Em 1933, Colatina parou para celebrar o centenário de criação do município na presença das mais altas autoridades civis, militares e eclesiásticas. O então prefeito Ademar Távora (1933 a 1934) fez um festão para comemorar a fundação da Princesa do Norte.  No discurso de abertura dos festejos na Praça 22 de Agosto, Távora recordou o esforço do desbravamento do território de Colatina.

“ Vencendo corredeiras impetuosas, rompendo a mata densa onde a morte por toda parte os espreitava, enfrentando a ferocidade dos índios, lutando contra doenças insidiosas, eles nos deram um exemplo de abnegação e de coragem que mal poderá ser compreendido pelo espírito utilitário de nossa época. A História esqueceu-lhes os nomes, mas obra que deixaram aí está desafiando a ação do tempo”.  O discurso foi registrado pelo jornal Diário da Manhã de 28 de agosto de 1933, edição 2.392.

Hoje, um pequeno gramado espremido entre na confluência das avenidas Getúlio Vargas e Ângelo Giuberti foi batizado de Ademar Nascimento Fernandes Távora,  visando homenagear o 5º prefeito de Colatina. Ele fora nomeado pelo interventor Federal João Punaro Bley (1930 a 1943).
 
Os quartéis militares erguidos as margens do Rio Doce entre os anos de 1800 e 1840 são mencionados como as primeiras ocupações da região de Colatina. Os núcleos  soldadescos eram pontos de moradia, provisões de alimentos e abrigo contra os ferozes botocudos.

A saga dos militares na defesa contra o tráfico de ouro e proteção dos imigrantes no desbravamento Rio Doce foi esmiuçada no trabalho de Pós-Graduação em História: Índios Imperiais. Os Botocudos, os Militares e a Colonização do Rio Doce de Francieli Aparecida Marinato, em 2007 na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Em todo o estudo acadêmico ficou muito claro que o indígena não deixou de guerrear, sendo dizimados pela superioridade do armamento.

O Quartel de Anadia – ficava instalado nas imediações do atual bairro de Maria Ortiz. Pelo registro deve ter durado de 1800 a 1840.  

O médico e historiador colatinense José Luiz Pizzol revela que a ruínas do Quartel de Anadia em Colatina foi registrado por Nicolau Rodrigues França Leite ao subir o Rio Doce num navio a vela com 48 colonos em 1857.  “Havia apenas ruinas, algumas plantações de bananas e laranjas assim que passou de barco para fundar a colônia de Francilvância - que fracassou devido a doenças e ataques dos botocudos”, afirmou Pizzol.
 

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