18/09/2020 às 17h37min - Atualizada em 18/09/2020 às 17h37min

Apesar do fascismo, a primavera nos faz persistir e florescer

A primavera me faz sentir viril como antigamente

- Perter Falcão
Pauta Livre Assessoria
A primavera é beijo roubado com espontaneidade, sem a fervura do verão, tão pouco o frio do inverno. Foto: Peter Falcão

A primavera beija a face. E a primeira impressão que tenho é que as crianças do condomínio estão mais felizes e cordiais. 
 

 Elas simbolizam, aos meus olhos, as estações. Ao vê-las, aprendo o significado verdadeiro de cada sopro do vento. Da ínfima brisa até aos sinais da tempestade. 
 

 Fui menino vadio que corria entre matos de espinho. Senti deliciosos odores que surgiam dos capins. 
 

 A chegada da primavera, aparentemente, limpa os caminhos do mal, com flores que surgem como peitos abertos glorificando esperanças. 
 

 A primavera é beijo roubado com espontaneidade, sem a fervura do verão, tão pouco o frio do inverno. 
 

 É o beijo que sintetiza o que cada estação nos traz de bom. O que de ternura tem cada uma. 
 

 Vejo os fascistas na primavera desconcertados. Pois ela não comporta ódios, com suas cores de extremo esplendor.

Fogem como vampiros enlouquecidos para suas grutas da ignorância. 

 

 Percebo nos pássaros delicioso alvoroço. Olhar da janela me revela algo pungente, único. 
 

 Parece que algum caminho se abrirá e nos transportará para longe desta angústia cotidiana, que nos quebra os ossos, seca nossa boca e soca as costelas até o ar não poder mais circular. 
 

 Não sei de onde vem a cumplicidade com a primavera. Ela me toma intimamente. 
 

 É como se as culpas (estas terríveis facas que nos imobilizam) ficassem esperando no canto para se apossar em outros tempos. 
 

 Traz vontade de encontrar velhos amigos para sentir o raro cheiro da cumplicidade. 
 

 A primavera me faz sentir viril como antigamente. 
 

 Ao caminhar não vejo os jovens passarem ao meu lado como bólidos, e eu trôpego, como em outras estações. 
 

 Percebo as moças me olhando como se tivesse músculos rígidos. Talvez impressionadas pelo circunstancial frescor juvenil que me acompanha. 
 

 Enfim, a primavera ressuscita a esperança de dias menos tristes e mais vibrantes e solidários, observando as flores, revoltas, surgindo, de todas as partes. 
 

 Até mesmo no concreto íngreme, de alturas inimagináveis. 
 

As vejo lá em cima e me emociono. Mais que isso, sinto-me cumplice.

Afinal o que mais fiz na vida foi persistir. E tentar florescer. 

 

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