24/10/2023 às 12h52min - Atualizada em 24/10/2023 às 12h52min
Tabosa e o Rio de Ouro
- Nilo Tardin e Laili Campostrini Tardin
Diariamente pode ser visto tirando areia, ao menos para que a canoa de fundo chato possa passar. Foto: Cássio Rossoni. A extração artesanal de areia nos afluentes e no Rio Doce destinada a construção civil resiste ao tempo em Colatina. A cidade de 123 mil habitantes do noroeste do Espírito Santo, cresceu a passos largos pelo braço forte de homens e mulheres que abraçavam a mineração de areia.
Hábeis navegadores, as embarcações cheias até a borda, boiavam com menos de 2 cm acima da água na veloz correnteza. Apenas o galeio da canoa e remadas certeiras às impedia de afundar.
O farto areal a flor d’água é dinheiro vivo. É mais um tesouro do mosaico de tributários que desembocam no Rio Doce, um rio de ouro, mistérios, príncipes e lendas.
Restam poucos tiradores com o desembarque das dragas, escavadeiras e caminhões. Caminhões monstruosos. A mineração de pás e enxadas se mistura na construção do município na altura dos seus 102 anos rico de histórias incríveis .
Orlando Tabosa de Lima, 78 anos ainda vive de remover a areia do fundo do Rio Santa Maria. Chega cedo ao ponto de areia ao lado da Ponte de Ferro de acesso da Avenida Rio Doce.
Diariamente, o areireiro pode ser visto tirando areia, ao menos para que a canoa de fundo chato posa passar. Tabosa não se casou. A vida de solteiro o acalenta no dia a ensolarado do município. O maçarico do clima queima a paisagem e a pele do veterano extrator de areia que há 40 anos vive da profissão com data e hora para acabar.
Flamenguista diz que vida de tirador de areia é sofrida. Em 2006, a exemplo teve que suspender a atividade, uma vez que o Rio Maria secou. Tabosa, vive com pé no rio desde 1972. Deixou o emprego fixo de cozinheiro no Restaurante Drink pelo gosto de mexer com a água.
Seu Tabosa diz que é um homem de letras. Sabe ler e escrever. Se orgulha de ter feito a 5ª Série, o que era muito na época. Gosta de acompanhar pela leitura o que acontece na região e no mundo. Nunca achou uma pepita de ouro no leito dos rios. Ou melhor. Colheu uma grandona na pá.
Quase do tamanho de um punho de criança. A lenda reza que a pedra de ouro é escorregadia. Assim que tentou pegar. Plum! Caiu de volta no leito do rio.
Já garimpou objetos valiosos como um cordão e um relógio O cordão ele vendeu. Faturou uma graninha extra. O relógio ainda funciona. O Ciclo do Ouro que enriqueceu os exploradores e mais ainda Portugal nasceu na Bacia do Rio Doce.
Em 1693, chegou a mais esperada notícia que o Brasil e Portugal ansiava. Descobriu-se o ouro. O bandeirante Antônio Rodrigues Arzão encontrou o primeiro ouro do Brasil, no rio Casca, afluente do Rio Doce em Minas Gerais. Este bandeirante desceu o Rio Doce com as pepitas e dirigiu para Vitória, onde foi publicamente noticiada a tão esperada descoberta. Em Vitória foram cunhadas duas medalhas. Uma ficou com o bandeirante e outra para o capitão-mor do Espírito Santo, João Velasco Molina.