05/10/2020 às 17h07min - Atualizada em 05/10/2020 às 17h07min

Tenente Evaristo: mito ou lenda

O livro “O tenente Evaristo” fora lançado em 1904, atirado ao ao fogo por duas famílias

- Paulo César Dutra (Cesinha)
Desenho da capa do livro: O Tenente Evaristo, romance histórico, de 1906. Foto: Ilustração
No final do Século XIX surgiu na Província do Espírito Santo, no Brasil, um pernambucano de estatura mediana.

O nome dele era José Evaristo de Lima (1872-1901) que ainda muito jovem havia escapado da Província de Pernambuco acusado de atentado ao pudor e para não ser preso fugiu para a Província de São Paulo, onde se engajou na polícia militar de onde foi expulso por insubordinação. Mudou-se para   Vitória, Capital da Província do Espírito Santo e entrou na polícia militar.

Naquela ocasião o país passava por uma transformação política e econômica por causa da Proclamação da República. O imperador Pedro II havia sido deposto e exilado pelos militares.

Neste mesmo período o clima de desmandos, medo e horror que pairava sobre a região do Rio Pardo (hoje Iúna), era palco de crimes bárbaros. Os crimes na região tiveram origem na disputa de fronteiras (Minas Gerais e Espírito Santo) e se estenderam, motivados pelas rixas de famílias, em defesa da “honra” e da disputa pelo poder. Havia a necessidade de se implantar a ordem e segurança naquela região.

O governador do Estado, por dois mandatos (1892/1896 e 1900/1904), José de Melo Carvalho Muniz Freire (Marido de Dona Colatina), mais conhecido politicamente como Muniz Freire, pressionado pelos aliados políticos e duramente criticado pelos adversários, precisava ajustar a situação do Vale do Rio Pardo.

E no início do seu segundo mandato enviou para lá o jovem pernambucano com a patente de tenente, que virou personagem de um romance escrito e publicado em 1904, pelo paranaense Ângelo Guarinelo (1876/1959), quando então advogava pelas comarcas do sul do Estado, e, em Rio Pardo (Iúna), exercia o cargo de coletor de impostos do Governo Federal. Porém, o livro “O Tenente Evaristo”, não foi vendido nas livrarias, foi recolhido pelas famílias envolvidas no romance.

Em um determinado trecho do livro, o escritor relata “...Não vê que se a força for enviada será seu comandante, um oficial de uma coragem destemida, um valente que mesmo sozinho talvez faça recuar batalhões. Entretanto é bom que fique prevenido que ele é um verdadeiro carrasco.Sim, senhor ! Lá para o Rio Pardo só um oficial assim é que pode sair-se bem,interrompeu o delegado, com fisionomia lampejante...”

O tenente Evaristo era sim, um sanguinário que no pouco tempo em que comandou a polícia no Vale do Rio Pardo passou a determinar quem deveria “viver ou morrer”. E pior, se envolveu com duas mulheresde famílias tradicionais e como todos se lembram, naquela época, a honra e dignidade eram resolvidas a bala.

O misterioso livro “O tenente Evaristo” fora lançado em 1904, lançado ao fogo propriamente dito, por duas famílias que se sentiram feridas em sua honra e dignidade. Nunca foi encontrado em livrarias. As pessoas que tiveram coragem de guardar um exemplar, o conservaram com avareza e discrição.

O jornalista capixaba Levy Rocha, em artigo publicado na página 11, do Caderno Dois, do jornal A Gazeta, de 14 de agosto de 1982, classificou o livro de “O Romance Maldito”, por causa da forma como o autor descrevia o horror que pairava sobre a região do Rio Pardo. Segundo apurou Levy Rocha em seu artigo, por volta de 1905, quando o autor presenteou um exemplar ao pai do historiador Joaquim Amorim, declarou que os personagens são reais, mas com nomes falseados. Embora um dos personagens faça acusações contra o então governador do Estado Muniz Freire.
               Mais tarde, em 1911, os crimes do Rio Pardo, descritos no livro, ganharam projeção nacional depois de gerar uma série de trocas de acusações entre o senador Bernardino Monteiro - em defesa do seu irmão Jerônimo Monteiro, candidato ao governo do Estado naquele ano – e o também senador Muniz Freire, que mais tarde deu nome a um dos municípios da região do Vale do Rio Pardo. Muniz fez um pronunciamento no Senado acusando Jerônimo Monteiro por crimes no Estado. Bernardino rebateu em defesa do irmão, acusando Muniz de enviar para o Vale do Rio Pardo um pistoleiro para executar pessoas inocentes, se referindo ao tenente Evaristo.
 
               O Tenente Evaristo

O que chama atenção no livro “O Tenente Evaristo” por Ângelo Guarinello é a sua abertura, em que o autor denomina de Prólogo (*).
              
“Através das páginas deste livro brilha em iluminuras gloriosas o clarão aurifulgente da verdade.
              
O tenente Evaristo, Leandro de Faria, o padre Vilão, Olímpia e Eugênia são personagens reais, conhecidos; e as emocionantes cenas que com seus lances de terror hão de ensombrar os leitores, não são outra coisa mais que a pálida reconstituição de fatos, em favor de cuja autenticidade se pôde invocar o testemunho ocular de pessoas probas e distintas.
             
Não nos iludimos, porém, de que encarniçada guerra vai ser declarada ao nosso livro, e que não hão de ser poupadas armas para feri-lo.
             
As causas da verdade são sempre seguidas de perto.
             
Esta perspectiva sombria, porém, não nos abala.
            
A tempestade pode desencadear-se que sempre nos há de encontrar firme e tenaz, como os rochedos batidos pelas vagas na amplidão infinita dos mares.
           
A Verdade, ainda que tardia, sempre afugenta as trevas e as honras do triunfo sempre lhe estão reservadas.

O Autor

(*)Prólogo (do grego πρόλογος - prólogos, pelo latim prologos, o que se diz antes) é um termo originalmente usado na tragédia grega para a parte anterior à entrada do coro e da orquestra, na qual se enuncia o tema da peça. Tornou-se também sinônimo de prefácio, preâmbulo, proémio, prelúdio e prormônio.
Tornou-se prática comum nas peças dos séculos XVII e XVIII, geralmente em verso. Neste preliminar da representação, um ator ou narrador declamava uma mensagem do dramaturgo ao público, frequentemente tecendo, comentários satíricos, solicitando a indulgência dos espectadores em relação aos eventuais defeitos do espetáculo, ou especulando sobre os temas da própria peça. Havia uma familiaridade implícita nesta interpelação, revelando uma identificação social e ideológica com o público, quase exclusivamente aristocrata, especialmente notória no período da Restauração de Carlos II de Inglaterra.
              
No Arquivo Público do Espírito Santo existe uma cópia xerox do livro original que está liberado para os visitantes, porém com algumas páginas inelegíveis. Uma colecionadora mineira (a escritora Nancy Araujo de Souza) conseguiu reconstituir um exemplar do livro, que não está à venda e nem para empréstimo. No livro, no decorrer dos relatos, o autor ataca também a magistratura capixaba, a igreja e o padre vilão de Rio Pardo. O tenente Evaristo começou a sua luta infernal por São Manoel de Mutum (que fazia parte da Capitania do Espírito Santo e  hoje pertence a Minas Gerais), que fazia divisa com Rio Pardo fuzilando sete pessoas.
              
E foi em junho de 1900, que os aliados e os adversários de Muniz Freire, indiretamente unidos, sem manifestaram que Rio Pardo não poderia continuar sendo o município da orfandade e da viuvez. O delegado da cidade viajou para Vitória, levando na mochilaum pedido de socorro, pois Rio Pardo estava entregue aos bandoleiros, e o governo de Muniz Freire tinha que enviar para lá uma coluna expedicionária que recoloca-se em seus eixos a garantia  individual e o respeito devido á honra e à propriedade. 

O delegado foi recebido pelo Chefe de Polícia que leu o pedido e disse: “o governo, há muito tem querido dar uma providência enérgica e decisiva contra os bandoleiros da mata de sua Comarca... Em todo caso é preciso dar-se uma providência; e estamos resolvidos a enviar uma expedição ainda que seja de poucos soldados”.

“Mas, doutor, atalhou o delegado, com poucos soldados nada se conseguirá: o insucesso torna-se matemático. Antes fazer-se de uma vez para sempre um sacrifício em regra, do que ter que ficar o estado de coisas no mesmo ponto. Bem sabe o doutor que menos de cem praças nada poderão fazer...”
“Devo, no entanto dizer que é bem possível que não haja necessidade de se recorrer ao auxílio popular, para se poderem realizar as diligências. Não vê que se a força for enviada será seu comandante, um oficial de uma coragem destemida, um valente que mesmo sozinho talvez faça recuar batalhões. Entretanto é bom que fique prevenido que ele é um verdadeiro carrasco”, disse o Chefe de Polícia.

“Sim, senhor!  Lá para o Rio Pardo só um oficial assim é que pode sair-se bem”, disse o delegado.

“Ele é de tal ordem que quando se acha aqui não nos sentimos seguros, por isso o mandamos sempre destacar longe e em lugares perigosos. Mesmo para ver se uma bala nos livra algum dia de semelhante pesadelo”, disse o Chefe de Polícia.

“Já sei de quem fala, o senhor se refere ao tenente José Evaristo de Lima”, disse o delegado. “O senhor tem muito boa compreensão, mas como foi que adivinhou? Indagou o Chefe de Polícia. “Ora, o doutor falou em carrasco e em todo o Estado já se sabe que não há outro”, disse o delegado.
“Mas há outro obstáculo. A força vai até lá, prende os bandidos e depois... depois a cadeia fica cheia e toca o Estado a sustentar os malandros fazendo despesas que não pode”, disse o Chefe de Polícia.

E o delegado revidou: “quanto a isso, há muitos remédios. A cadeia seria melhor até que dela nem se falasse. Os criminosos têm suas pretensões, o Estado faz gastos com eles e depois, no júri, aparecem jurados de encomenda e eles vão outra vez para o olho da rua, e de novo a dar que fazer à polícia. Assim, eu achava muito mais acertado que, ao invés de se fazerem despesasextraordinárias com tal casta de gente, fosse melhor que se despendessem uns duzentos ou trezentos réis com cada um e estaria tudo acabado”.

O Chefe de Polícia se fazendo de desentendido perguntou ao delegado: “Duzentos ou trezentos réis?... Não atino com o sentido do que diz! O delegado com a resposta na ponta da língua disse: “vou explicar”: “Duzentos ou trezentos réis é o preço de uma bala de carabina”.  “Ah ! Já compreendi. Quer o senhor então que se aplique contra os desordeiros a lei do gatilho, não é?”

E assim foi dado o sinal verde para o temido tenente Evaristo devolver ao Vale do Rio Pardo a segurança e tranquilidade.

Em 1900, antes de seguir para Rio Pardo, o tenente Evaristo havia regressado da vila do Calçado (hoje, cidade de São José do Caçado), onde a sua estadia na qualidade de comandante do destacamento, tinha sido um pesadelo insuportável. O regime de terror por ele ali inaugurado é lembrado até os dias de hoje, de geração para geração.

Quando o tenente Evaristo chegou ao Rio Pardo, todos, ao vê-lo, ficaram tomados de funda admiração. Pelos feitos que cruzavam de boca em boca a respeito do destemido oficial, a suposição era que ele fosse um gigante de musculatura hercúlea, que seus lábios nunca tivessem ensaiado um sorriso, que seus olhos pequeninos fossem ensombrados por uma expressão truculenta,inspirando a todos o gélido pavor da catadura dum espantoso fantasma.

Ao contrário, porém, e com grande surpresa de todos, via-se que ele era baixo de estatura, de constituição franzina e rosto oval e avermelhado.

Em suas órbitas, encimadas por espessas sobrancelhas, giravam dois olhos castanhos, ativos e inquietos. A sua expressão sintetizava a coragem, o atrevimento e o valor. Não apresentava ter mais de dezenove a vinte anos de idade.

 Seus modos, que à primeira vista, pareciam dóceis e brandos, não o fariam supor capaz das sanguinosas atrocidades de que era apontado como protagonista

 E já familiarizado em Rio Pardo, numa quadrilha junina o tenente Evaristo dançou com uma senhora, franzina, baixa, de grandes olhos castanhos e expressivos que mais uma vez se tinham assestado no vulto do dominador. Era uma das damas mais bem trajadas que ornamentavam o salão e seus pômulos ataviados de cambiantes cor-de-rosa, exercia como que uma influencia de atração. E começava então um romance que daria fim ao temido tenente Evaristo.

 Em uma passagem do livro “Quase tudo” por Danusa Leão, discretamente, ela fala também do tenente Evaristo, mas na base do “eu ouvi contar”. Ela relata “...meu avô, Braz Lofego, um imigrante italiano chegou ainda menino ao Brasil... tinha uma irmã mais nova, tia Nóbila, que era italiana, falava com sotaque e tudo. Estava casada, já com dois filhos, quando apareceu o tenente Evaristo procurando pelo bando de Lampião.

Não me pergunte como essas coisas podem acontecer numa cidade com uma rua só, mas aconteceu: os dois se apaixonaram. Um belo dia, tia Nóbila sumiu. Meu avô e mais um de seus irmãos, que já desconfiavam de alguma coisa, pegaram a estrada, a cavalo, e muitas léguas adiante viram Evaristo, com sua canequinha de prata com três correntes, tentando tirar água de um poço. Diz a lenda - qual a família que se preza que não tem as suas? - que Evaristo foi fuzilado no ato. Tia Nóbila havia fugido com uma empregada, e a combinação era que se encontrariam, ela e o tenente, em Cachoeiro de Itapemirim...
 
No livro “O Tenente Evaristo” a personagem é a mulher de Atanásio!... Olímpia!... Uma dama tão nobre de feições, tão insinuante. Porém, segundo a narrativa do autor, antes de se apaixonar por Olímpia, o tenente Evaristo tivera um caso com outra mulher, em outra vila, hoje cidade de Santa Leopoldina, que ele a chamava de “minha formosa Eugênia”
              
Temendo ser morto o tenente Evaristo preferia as viagens noturnas que não só evitavam emboscadas como também ocultavam aos curiosos as pegadas de expedição. Já então a noite envolvera por completo a natureza nas negras dobras de seu manto. Evaristo assim como era assassino, também era romântico. E, segundo o autor do livro, Evaristo que falando em Olímpia e Eugênia sentia-se cada vez mais inspirado.

Porém, Evaristo estava deixando os cultores da justiça e os apóstolos da lei apavorados com as suas incursões. E para Rio Pardo, não existia nem a justiça e nem a lei. Aí onde novas vítimas o levavam, já os boatos dos terrores praticados andavam à surdina de boca em boca,com entrechos que coloriam de cores mais pesadas a realidade.

O tenente, fiel à expectativa da população, tantos e tantos atentados contra a vida de cidadãos pacíficos cometera, que a vila tornou-se uma espécie de depósito de terror, um inferno artificial, onde a vida  quando não era consumida pela destruição do fogo, o era pelo sabre, pelos temores, pelo espavento. Estamos em janeiro de 1901. A vila de Rio Pardo parece uma localidade entregue à discrição de um bando de inimigos vorazes. Não se via em seu âmbito transitar senão soldados, munidos de carabinas e de rifles. O comércio jazia amortecido.
 
Os negociantes, uns mudaram de residência, outros que, por um esforço sobre suas próprias vontades nela se conservavam, vivendo com a impressão sinistra de verem de um instante para outro, assaltadas as suas propriedades e esquartejadas as suas pessoas. Muitos particulares, desses que viviam de seus labores diários, já se não sabe onde passaram a residir. A uns o medo; a outros o ataque imprevisto contra suas vidas, fez evaporar, desaparecer. O terror era o tenente Evaristo.

 E no seu atrevimento, Evaristo conquistou Olímpia, a esposa de Atanásio, aquela mesma que no baile dedicado ao militar, após seu regresso da Guaxima, tanto deslumbramento produzira na imaginação do bandoleiro. Já havia meses que Evaristo residia em casa contígua àquela mulher de volubilidade embriagante, e a população toda da Vila notava que o militar quase de contínuo se achava em casa de Atanásio, onde era visto em amistosa versatilidade com Olímpia.

 Aos poucos, porém, Olímpia começou a sentir repugnância pelo marido e, sacudindo de seu coração a dedicação que lhe devia continuar a ter, pareceu ter também exumado a idéia que há muito a torturava, de que uma mulher donairosa e bonita, e de físico delicado conforme ela se julgava, não aparelhava.

Porém o tenente começou a perder o juízo com sua valentia. Um soldado apareceu pela rua de Rio Pardo, bastante ferido e gritando que havia sido ferido pelo tenente Evaristo. “Ele me deixou neste estado por ter eu ido cobrar o que ele me deve. Eu sei que ele vai matar-me, mas digo a verdade. Foi aquele miserável, aquele assassino que, se a justiça divina existir há de morrer a tiros, que me cortou a facão; só sinto deixar minha mulher e uma filhinha sem amparo”, disse o soldado.

Ninguém sabia dar explicações, mas corria nos cérebros dos moradores de Rio Pardo a idéia que os amedrontava, de que o tenente estivesse a levar a efeito a sua ameaça antiga de começar uma mortandade tremenda pelo quartel, fuzilar os seus soldados, friamente, um por um; e depois de passar para as casas da vila e fazer o mesmo, isto é, distribuir uma bala a cada um de seus habitantes, mutilá-los e, por fim, fazer uma fogueira no largo da igreja e reduzir a cinzas os seus cadáveres.

E foi quando a população de Rio Pardo começou a participar de uma cilada que levaria a cabo a vida do tenente Evaristo.

Enquanto isto, Olímpia sentia a honra de ser a mulher do homem que tinha debaixo de seu domínio o grande Vale do Rio Pardo, sobre cuja população tinha o direito de vida e de morte. Ela chegou a pedir ao tenente para que matasse o seu marido Atanásio, para se livrar dele para sempre. Não podia ela pensar que seria o motivo do golpe final contra o tenente Evaristo.

  As barbaridades de Evaristo – coisa incrível – eram desconhecidas em Vitória. O chefe de polícia, o Dr. Muniz Freire, fator de bancarrota e da desgraça de tão rico Estado, mostravam-se surpresos e admirados ao saberem dos assassinatos da Guaxima, dos retalhamentos a chanfalho de cidadãos; todos desconheciam o sobressalto em que estava e continuava a estar o Rio Pardo, não viam ou faziam empenho em não ver a espada de Damocles suspensa por um fio sobre a cabeça inerme de tão infeliz população.

 O tenente Evaristo foi intimado a se apresentar ao Chefe de Polícia em Vitória e todos sabiam que era a única forma de impedir os ataques do facínora do Rio Pardo.  Diante da situação Olímpia e o tenente Evaristo decidiram sair de vez, de Rio Pardo e mudariam para Cachoeiro de Itapemirim. Os dois se despediram na madrugada do dia 20 de março de 1901. Ela seguiu para Cachoeiro onde se hospedou em um hotel à espera do tenente Evaristo, que seguiriam para Vitória.

No dia 21 de março de 1901, o tenente acompanhado do representante do governo que o intimara, seguiu a cavalo em direção a Vitória. Mas não sabia o que o esperava.  Antes de deixara vila de Rio Pardo, o tenente Evaristo foi emboscado e fuzilado. No dia seguinte, 22 de março, Olímpia foi procurada no hotel por quatro soldados acompanhados do delegado de polícia da vila, que foram lá lhe dar a notícia da morte do tenente Evaristo.
Segundo o autor do livro, depois da morte de Evaristo poucos envolvidos no crime continuaram vivos.
 
Ângelo Guarinello
 
O acadêmico contista, poeta, fabulista e advogado Ângelo Guarinello nasceu em Pindamonhangaba (SP), em 19 de setembro de 1876. Depois de concluir os preparatórios (que eram os cursos primários, ginasial) onde nasceu ele se matriculou em 1890 e formou-se em 1895, na Faculdade de Direito de São Paulo, na capital paulista. De temperamento reservado, mentalidade à época nada conservadora, dono de privilegiada memória, apreciador de bons espetáculos teatrais e música erudita, falava correntemente o francês e o italiano. Casou-se em Curitiba com Eleonora Gaissler, que lhe deu dois filhos, dois conceituados médicos, Rafael e Paulo Emílio.

Não há uma informação oficial do motivo da presença dele aqui na Província do Espírito Santo entre 1900 e 1910, e porque escreveu o livro proibido O Tenente Evaristo, romance histórico, de 1906.

Não há nenhuma informação oficial informando porque o acadêmico Ângelo Guarinello voltou para Curitiba em 1910. Naquela cidade continuou exercendo profissionalmente a advocacia, ao lado de vigorosa atividade literária. Guarinello foi eleito componente do Centro de Letras do Paraná em agosto de 1921. Em 26 de setembro de1936, ele participou de um movimento para a fundação da “Academia Paranaense de Letras” – APL.  Guarinello, foi um assíduo freqüentador e colaborador, da referida Academia.

Sua biblioteca era de apurado gosto e fino requinte: alinhavam-se ali volumosos livros de direito luxuosamente encadernados, além de raras obras literárias.  No seu velório, em 27 de agosto de 1962, realizado em sua própria residência, na Avenida Vicente Machado 147, em Curitiba, foi-lhe negada a bênção pela religião católica por constar o seu nome no index, que, instituído pelo Tratado de Latrão, relacionava obras literárias consideras hereges, ou com momentos de heresia em seu conteúdo.

Esse index foi abolido pelo Concílio Vaticano II. Mas, na mesma oportunidade, num magnífico exemplo de fé cristã e de amor ao próximo, as freiras do Leprosário São Roque, de Piraquara, presentes ao ato fúnebre, ajoelharam-se e rezaram o terço em memória e pela alma do saudoso acadêmico. Sua bibliografia mostra O Tenente Evaristo, romance histórico, de 1906; A Salada da Vida, contos, 1930; Razões de Defesa em Favor de Valentin B. Sobrinho, 1936; Ressurreição, contos, 1938, e Emoliente da Lei, versos, além de trabalhos de caráter profissional. Guarinello foi o 1º ocupante  da Cadeira Nº 40, da Academia Paranaense de Letras – APL.
 

 

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