30/01/2020 às 16h49min - Atualizada em 30/01/2020 às 16h49min

​O Castelinho da Ladeira Santa Cecília

- Nilo Tardin
O Castelinho da Ladeira Santa Cecília resiste imponente a modernidade
Vende-se. A placa na frente do imponente paredão de pedra do Castelinho da Ladeira Santa Cecília denota um claro sinal.

Reflete o fim da Era de Ouro da madeira e dos extensos cafezais no vasto território de Colatina que cobria boa parte do norte noroeste capixaba. Não se faz vivendas como essa atualmente.

Construído em 1952 por Ezílio Scarton na colina defronte ao Rio Doce foi erigido com cimento polonês, piso de ipê roxo e amarelo, lustres de cristal da bolonha, portas imperiosas e soleiras do 
puro mármore  de carrara, revela o advogado Sérgio João Lievore, 72 anos, um dos herdeiros do palacete azul.


Nem o aspecto de abandono tira a majestade do casarão estilo neoclássico adornado por colunas góticas na varanda, descreve o urbanista Francisco Hermes Lopes.

O centro cresceu à sua volta em uma das áreas mais valorizadas da cidade. Aos poucos a arquitetura do mesmo naipe histórico  esta prestes a ser modificada ou demolida. O castelinho resiste ao tempo . Faz jus  integrar a série de reportagens Colatina 100 Anos – 1921 a 2021.

Representa a mudança do perfil agrário para o industrial do município. Em 1957 Colatina conquistou o diploma de maior produtor de café do mundo.

Fatiada em retalhos, vilas e distritos colatinenses viraram 12 prósperas cidades. Tomaram posse da chave do cofre forte abastecido pelo ouro verde.

Agora o modelo caixotão do shopping ofusca o brilho da bela fachada na ladeira centenária.  Ainda pode ser visto  disfarçado entre a fresta da via espremida pelos prédios altos 
na esquina da Caboclo Bernardo com Jerônimo Monteiro.


Casado com médica Fátima Ferreira Lievore, Sérgio guarda lembranças memoráveis dos encontros da mocidade, reuniões comemorativas e festas ao longo dos 46 anos que o casal Hilário Lievore e Irma Dalla Bernardina e filhos,  habitou o palacete.

Fechado desde 2014 com a morte do patriarca, o patrimônio será vendido e dividido entre os irmãos, explica 
Sérgio o motivo de passar o imóvel para frente. Ele é o mais velho de quatro irmãos, Elizabeth, Margareth e Ivan, o Banha já falecido.

“Foram anos felizes”, declara o advogado que conhece a história de cada palmo da suntuosa casa construída no terreno de 600 metros quadrados. 

“Um gesto de amor deu origem do Castelinho da Santa Cecília. Não é invenção minha. A escritora Maria do Carmo Gaspar Scarton me contou. Viu o modelo na revista. - Ezílio quero uma casa igual a essa pra nós. Dito e feito. Apaixonado, contratou arquiteto carioca que fez a réplica, escolheu a dedo o lote, quebrou as pedras.

Levantou a mansão em um ano onde tiveram quatro filhos nos anos dourados: Weber, Norton Eleonora e Bosco. Papai comprou o Castelinho em 1968”, recordou Sérgio Lievore.


Relembra com o semblante entristecido dos amigos da juventude Bosco que faleceu num acidente em Niterói e Nortan de complicações cardíacas.
 
Retratos de um tempo que não volta mais, livros de pensadores e romances de época,  revistas clássicas ficaram para trás durante a mudança do Castelinho.

- Esse é meu pai a passeio na América, Meus tios e primos. O álbum foi esquecido. Vou levá-lo”, afirmou Sérgio ao empacotar um maço amarelado de fotografias antigas encontradas durante nossa visita a casarão.

Os armários vazios – a torneira da pia foi roubada por furtivos moradores de rua-, o belo mosaico do piso feito de pequenas pastilhas de cerâmica importada ainda brilha pelos cantos apesar da poeira insistente em sujar o ambiente requintado das magníficas salas de visitas e estar. As cortinas de puro linho ainda estão ali.  Enfeitam as janelas de madeira de lei. Ajudam a realçar a a decoração do interior de uma das mais belas residências de Colatina. 

Castelinho preserva até hoje a forma original

Enquanto a sua volta tudo mudou, o palacete permanece preservado fincado na rocha no coração do centro comercial e financeiro de Colatina.  

- Nunca foi mexido, garante Sérgio João Lievore. O advogado  conta que uma festa de solteiros por volta de 1967 resultou na proposta de compra  do imóvel. “Weber nos convidou para uma festa de Natal. De manhã me disse se tinha interesse em comprar a casa, uma vez que a família tinha ido para Icaraí em Niterói (RJ). Meu pai foi trocar uma idéia com Ezílio, um dos donos da Casa do Anzol e do Plaza Hotel. Pagou metade na hora e o restante depois”, afirmou.  

O comerciante Domingo Riva numa incursão ao Castelinho na manhã de uma quarta-feira deste chuvoso mês de janeiro, saiu de lá admirado com luxo e requinte do acabamento, das maçanetas e louças dos banheiros de época.



“É um esplendor da residência. Legado de uma época. Quem comprar não precisa derrubar. Deve reformar e viver nela. Está um pouco abandonado. Já estive aqui antes, a convite do seu Hilário quando foi homenageado pela Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) e Sindilojistas de Colatina", destacou Riva.

Sérgio Lievore registra que seu pai Hilário faleceu aos 88 anos e sua mãe Irma aos 75. “Papai era marceneiro, mamãe costureira no começo de vida. Entramos no ramo de café e criamos a premiada concessionária de veículos, Ciauto. Meu sonho era ser advogado”, revela. 

Conta que seu avô Stefano viveu com eles em um dos 15 cômodos dos dois andares do Castelinho até o fim da vida.

Número

Preço do Castelinho da Ladeira Santa Cecília

R$ 1,5 milhão

Data

1953

Ano que a obra do Castelinho ficou pronta
 

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