14/12/2020 às 07h59min - Atualizada em 14/12/2020 às 07h59min

O comandante e os comandados

A expectativa de rever o Sargento Serpa era muito grande naquele dia 8 de julho de 2012

- Paulo César Dutra
Presente & Passado
Os reservistas de 1970, do Tiro de Guerra de Colatina se emocionaram ao reverem 42 anos depois, o “sargento Serpa”. Alguns não se contiveram e até choraram. Fotos: Paulo César Dutra - Cesinha.

O terceiro encontro dos reservistas da Turma de cabos e soldados de 1970, que serviu o Exército no Tiro de Guerra 01-108, de Colatina, foi no  dia 8 de julho de 2012, no Cerimonial Jonas Paiva, no bairro Honório Fraga, em São Silvano, Colatina, no Estado do Espírito Santo, no Brasil. Ele foi marcado com o reencontro de uma boa parte dos reservistas, com o então comandante, hoje capitão da reserva do Exército e advogado Joaquim Gonçalves Serpa, o “sargento Serpa”. que eles não viam, há 42 anos.

Foi importante esse encontro, pois puderam contar as suas histórias e mexeram na memória daquele tempo em que serviram a pátria. A coordenação e organização desse encontro estiveram por conta dos reservistas Major Vilmo, Dutra, Arrigoni, Balarini e Paiva. 

O primeiro encontro da Turma de 1970, foi em 1984 e o segundo no ano passado 2011. O ponto de referência de encontros dos reservistas era no bar do Major Vilmo localizado na Avenida Angelo Giuberti, nº311, no bairro Esplanada, Colatina.

Porém, como ninguém é de ferro, o Major Vilmo decidiu este ano (2020) vestir um pijama verde-oliva, para tomar conta das netinhas e passou o ponto do bar para outra pessoa. Como os reservistas de 1970 se modernizaram, os encontros agora são no wat-zap.
 
Emoção
 
A expectativa de rever o “sargento Serpa” era muito grande naquele dia 8 de julho de 2012  e apesar do encontro ter sido marcado para se iniciar às 9 horas, o reservista Spalenza chegou às 7 horas. Ele foi a primeira andorinha a se apresentar no “ninho de 70”. E assim aos poucos foram chegando os reservistas e dois deles, o Gregório e o Dias, chegaram agoniados, pois estavam de bico seco e o “Major Vilmo” não havia ainda autorizado liberar as bebidas.

Enquanto o “sargento Serpa” não chegava, os reservistas lembravam onde ficava o velho Tiro de Guerra e o que cada um fazia dentro e fora dele, durante as penosas guardas de 24 horas.

E assim foram se juntando e estavam lá, 25 reservistas sob o comando do cabo Sathler, a espera do “sargento Serpa”, que atualmente é capitão reformado do Exército, exercendo a profissão de advogado com escritório em Marechal Floriano (só podia ser lá).

Alguns reservistas contaram a forma inesperada com que foram arrancados do conforto de suas casas, seus afazeres e responsabilidades, para servir o Exército em 1970.

Naquela ocasião, o saudoso reservista Salume fez uma observação “era um tempo de desconforto e incertezas, pois vivíamos um tempo de revolução militar.

Para nós foi uma forma de saber como era a vida e como devíamos nos comportar. Hoje, agradecemos aquela educação que recebemos”, disse. Salume faleceu em 2013.

 O desconforto das instruções, das marchas quilométricas, a precariedade do velho quartel e a incerteza do futuro de alguns reservistas estravasavam pelos bares de Colatina, em queixas, arruaças, estropolias e desatinos.

Ao ver a indisciplina, o “sargento Serpa” era rigoroso, pois não queria aquilo dos seus combatentes. A forma inesperada com que o “sargento Serpa” surpreendia os cabos e soldados sob o seu comando até hoje são lembrados.

Assim os cabos e soldados da Turma de 1970, conheceram o “sargento Serpa” em sua rusticidade, em sua paciência, em seu entusiasmo, a sua inteligência e a sua sensibilidade.

E foi assim que a Turma conheceu duros exercícios de combate de dia ou de noite. Nas competições ele queria mostrar aos adversários o valor da turma, que não queria fosse inferior a ninguém.

Então os jovens, que hoje, exceto o Major Vilmo, são em sua maioria, sexagenários, lembravam do comandante, que gostava que a tropa cantasse, sempre nas marchas quilométricas,  “..aqui não há que nos detenha e nem que turbe a nossa galhardia...”
.
E por volta das 14 horas, daquele dia, o “sargento Serpa” chegou acompanhado do seu filho.

O cabo Sathler fez as honras de recebê-lo na porta do cerimonial e os 24 reservistas presentes, se perfilaram para recebê-lo.  Era o mesmo homem, a mesma simplicidade, a mesma mofa, a paciência e a coragem de conversar com um a um abraçando-os.

Alguns reservistas se emocionaram quando se abraçaram com o “sargento Serpa”, coisa que tiveram vontade e não tiveram a oportunidade de fazê-la, quando eram comandados por ele. E para descontrair o cabo Lirio (falecido em 2018) pediu ao “sargento Serpa” para pagar duas flexões e todo mundo riu.

Participaram do encontro Adilson Torezani, Antonio Carlos Correia Brocco, Arlindo Fernando Arrigoni, Aroldo Antônio Xibli, Carlos Osiris Gregório, Carlos Roberto Delbem, Dirceu Guimarães Horta, Geraldo Luiz Prest, Ivo Balarini, Jair Dias,  Jairis Pulcheri, Jonas Paiva, Jorge Valverde Salume, José Nilso de Lírio, José Roberto Dellacqua, José Vilmo de Souza,Jovaldir Modesto Avancini, Luiz Carlos Spalenza, Neuber Dalapícola, Orly Batista Monte, Paulo César Dutra, Tercílio Bernardina, Valter José Tófoli e Welington Giuberti (falecido em 2017).
 
As mulheres marcaram presenças
 
O Quarto Encontro, bem florido com as presenças das mulheres  foi realizado no dia 14 de julho de 2013 , no Cerimonial Jonas Paiva,ao lado da Unesc, no bairro Honório Fraga, em Colatina. O encontro foi realizado sob o comando do Major Vilmo, auxiliado pelos reservistas Balarini e o Dutra.

O objetivo do encontro foi o de homenagear, mais uma vez, o “sargento Serpa”  hoje capitao da reserva do Exercito e advogado Joaquim Gonçalves Serpa, que não esteve presente por problemas de saúde (mas que conversou com todos naquele dia, via celular pelo sistema viva voz do carro do Dellacqua) e aos nossos saudosos colegas que partiram para o andar mais alto, entre eles o reservista Salume (Jorge Valverde Salume), que faleceu na madrugada do último dia 3 de julho de 2013.

As esposas, filhas e mãe dos reservistas que marcaram presença foram: Ignêz Bossato de Souza (Vilmo), Angela Maria Galon Arrigoni, Sandra Rosa Albano Balarini, Maria Agusta Cardoso Bernardina, Odete Goldner Vendramini, Lucinea Coelho Moreira, Elizabeth Ferreira de Lima (Taboza), Maria da Penha Silva Delaqua, Nely Fraga da Silva Tófoli e a filha Karoline Tófoli, Maria Aparecida Cruz Xibli e a filha Micheli Cristina Xibli,e Carmella Brancatta Paiva (a mãe do Paiva). 

 Outra novidade foram as presenças dos reservistas Sala, Taboza, Girondoli e Vendramini. Participaram também do Encontro os cabos Vandemberg Satlher e José Nilso de Lírio; os soldados Alcides Domingos Girondoli, Arlindo FernandoArrigoni, Aroldo AntônioXibli, Cesar Vendramini Filho, Dirceu Guimarães Horta, Elias Taboza de Lima, Hugo Carlos Rocha, IvoBalarini, JairisPulcheri, JonasPaiva, José RobertoDelaqua, José Tristão Sala, JoséVilmode Souza, Leomar José Moreira, Paulo CésarDutra,TercílioBernardina,Valter JoséTófoli e Welington Giuberti, da turma de 1970 e como convidados o sargento Alaor Denícoli e o soldado Arles Guerra Miranda (da turma de 1968).

Este ano, 2020, se o Tiro de Guerra de Colatina não tivesse sido fechado, estaria completando  75 anos. Ele foi criado em 1945 e a Turma de 1970 comemorou o Jubileu de Prata. Este ano a pandemia impediu a nossa comemoração do Jubileu de Ouro da Turma de 1970.

 
A Origem do Tiro de Guerra em 1902
 
O Tiro de Guerra (TG) é uma instituição militar do Exército Brasileiro encarregada de formar atiradores e ou cabos de segunda categoria (reservistas) para o exército.

Os TGs são estruturados de modo que o convocado possa conciliar a instrução militar com o trabalho ou estudo, proporcionando a milhares de jovens brasileiros, principalmente os que residem em cidades do interior do país, a oportunidade de atenderem a Lei e prestarem o Serviço Militar Inicial.

A organização de um TG ocorre em acordo firmado com os Municípios e o Comando da Região Militar.

O exército fornece os instrutores (normalmente sargentos ou subtenentes), fardamento e equipamentos, enquanto a administração municipal disponibiliza as instalações. Por isto, geralmente, o prefeito se torna o diretor do tiro de guerra.

Na década de 2010, existiam mais de 224 TGs distribuídos por quase todo o território brasileiro. Anualmente, ingressam aproximadamente 12.000 (doze mil) atiradores no Exército Brasileiro.
 
Origem
 
A origem dos tiros de guerra remonta ao ano de 1902 com o nome de linhas de tiro, quando se fundou em Rio Grande (Rio Grande do Sul) uma sociedade de tiro ao alvo com finalidades militares — esta, a partir de 1916, no impulso da pregação de Olavo Bilac em prol do serviço militar obrigatório, transformou-se, com o apoio do poder municipal, nesse tipo de organização militar destinada à formação de reservistas brasileiros.

Assim sendo foram criadas várias linhas de tiro, estrategicamente localizadas em cidades maiores de cada região, que davam maior proteção aos cidadãos, atualmente ao que tem se conhecimento o Tiro de Guerra com mais tempo em atividades no país é o 01-010 da 1ª Região Militar no Comando Militar do Leste.

O Tiro de Guerra de Nova Friburgo teve suas atividades iniciadas em 15 de agosto de 1909, sendo renumerado até permanecer 01-010, seus quadros pertenceram diversos veteranos da FEB que participaram diretamente no combate de trincheiras em Montese e Monte Castelo na Itália integrados as forças aliadas na Segunda Guerra Mundial.

Em 2018, o Tiro de Guerra de Carangola - MG comemorou 100 anos de fundação, com selo comemorativo dos Correios.

Um dos objetivos dos Tiros de Guerra é a formação de cidadãos cônscios sob os seus direitos e deveres na sociedade onde estão inseridos, transformando-se como verdadeiros elementos modificadores das duras condições das regiões em que residem, consistindo-se como centro de formação das futuras lideranças comunitárias e municipais querem no campo da política, da educação, da governança, da iniciativa privada, ou seja, cidadãos que terão franca e intensa participação no desenvolvimento regional e nos benefícios sociais que se desdobram com essa possibilidade.
 
Formação do atirador
 
O objetivo dos TGs é formar reservistas de 2ª categoria aptos ao desempenho de tarefas no contexto da Defesa Territorial e Defesa Civil. A formação do atirador é realizada no período de 40 semanas, com uma carga horária semanal de 12 horas, totalizando 480 horas de instrução.

Há um acréscimo de 36 horas destinadas às instruções específicas do Curso de Formação de Cabos, e um terço desse tempo é direcionado para matérias relacionadas com ações de saúde, ação comunitária, defesa civil e meio ambiente.

Até 1969, a formação do atirador era realizada no período de 80 semanas, o TG 01-010 contava com três pelotões, cerca de 153 atiradores, portanto a partir de 1970, essa formação foi dividida em 1° e 2° semestres, sendo dois pelotões no primeiro semestre e 2 pelotões no segundo semestre, uma formação de duzentos atiradores por ano em grande parte dos TGs.

Por curiosidade, a etimologia da palavra vem do latim tiro, termo usado para descrever novato, jovem soldado e recruta.

O cidadão que prestou o serviço militar em Tiro de Guerra como resultado de sua dedicação ao serviço poderá ser agraciado com o diploma “Ao Mérito” por haver revelado, durante sua vida militar, modelar comportamento na instrução e no serviço, tornando-se um elemento muito desejável pelo o mercado de trabalho, haja vista, o interesse das empresas por elementos responsáveis, com credibilidade moral que os credencia aos mais variados cargos nas organizações.

O projeto é um complemento na formação dos jovens e contribui na formação do civismo e do patriotismo.

É comum a continuidade da carreira militar por antigos atiradores de TG, que após o cumprimento do serviço militar inicial, demonstraram pendor para a carreira das armas, ingressando por concurso público nas diferentes escolas de formação de Oficiais e Sargentos (graduados), como consequência da vocação despertada por ocasião de ter servido o TG, a entre as forças atualmente oficiais do escalão superior que foram atiradores, além é claro de autoridades civis.
 
Contribuição para o Poder Público
 
Uma grande vantagem dos municípios que possuem Tiro de Guerra é poderem contar com um eventual apoio, mediante autorização do Exército, nos casos de calamidades públicas, catástrofes (podendo ser ou não por causas naturais), na Garantia da Lei e da Ordem (GLO), Controle de Distúrbios Civis e outras perturbações que justifiquem o emprego de tropas federais na região, além de atividades de colaboração com a Defesa Civil, uma grande escola de formação moral, cívica, ética, social e patriota.
 
No ES            
 
Tiro de Guerra de Alegre       TG 01-005      Alegre                                    ES

Tiro de Guerra de Cachoeiro do Itapemerim           

TG 01-012      Cachoeiro de Itapemirim       ES

Tiro de Guerra de Castelo      TG 01-006      Castelo                                    ES

Tiro de Guerra de Guacui      TG 01-013      Guaçuí                                               ES

Tiro de Guerra de Linhares    TG 01-017      Linhares                                  ES
 
 
Nota do autor do texto:

O Tiro de Guerra -TG 01-108, de Colatina é o único, dos seis que existiam no Estado, que foi fechado no Espirito Santo,  por uma doutrina política de dois partidos, o PSB e PT,  que estão no comando da Prefeitura de Colatina desde 2001.

Com o retorno do mais ferrenho deles, ao cargo a partir de 1º de janeiro de 2021, não existe  nenhuma chance do Tiro de Guerra -TG 01-108, de Colatina ser reaberto nos próximos quatro anos.
 
       
Guerino Balestrassi-   de 1º.01.2001 a 31.12.2008
       
Leonardo Deptulski-  de 1º.01.2009 a 31.12.2016
       
Sergio Meneguelli-     de 1º.01.2001 a 31.12.2020
 

 
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