14/08/2021 às 13h01min - Atualizada em 14/08/2021 às 13h01min

Ponte de Colatina sobre o Rio Doce criou travessia para o futuro

A Florentino Avidos marcou o desenvolvimento do Norte capixaba

- Nilo Tardin
DDC News
Antigos moradores relatam a circulação da Maria Fumaça sobre a ponte de Colatina. Foto: Ilustração: Aquarela Frederico Freire.
 

 
A curvatura perfeita da boca do escabroso túnel de drenagem no maltratado córrego Transylvânia, aparenta de perto carregar o segredo das empolgantes viagens no tempo.

Quase um século depois, o esplêndido arco de pedra encoberto pelo matagal é o único vestígio arqueológico da construção da Estrada de Ferro Norte Rio Doce e da ponte Florentino Avidos em Colatina, noroeste capixaba.

Atualmente mais de 45 mil veículos/dia circulam sobre a titânica ponte  iniciada em 1926. Ficou prontinha em 28 Junho de 1928 como ponte ferroviária coberta de dormentes e trilhos vazados.

O caminho de ferro não deu certo. A malha chegou a penetrar 7 quilômetros adentro pelo Vale do Transylvânia – atual São Silvano até o Córrego do Ouro. A obra da via férrea foi paralisada em fins de 1928. O viaduto que dava forma de laço ao complexo pátio de manobras recortado de galerias foi demolido em 1954.  

O lado poético da coisa é que gerou o nome do atual Bairro Lacê.

A linha Rio Doce São Mateus desapareceu no alçapão da história.  O cavalo de ferro seria a ponta de lança na conquista do Império das Selvas do Norte do Estado, considerado ‘Sertão Verde’ inexplorado.  A devastação desenfreada passou  o rodo na questão ambiental.

O intento do presidente do Espírito Santo, engenheiro Florentino Avidos (1924 a 1928) era ligar o território de Norte a Sul pela via férrea e interligá-la a um ramal já existente em Nova Venécia.

De modo curioso, a ruína da ferrovia propiciou a abertura de 130 quilômetros de estradas e picadões, além de a gigantesca ponte complementar que uniu o estado partido ao meio pelo majestoso ‘nilo brasiliense’.

Provocou a explosão do surto progressista que gerou dez belas cidades antes ligadas a Colatina: Baixo Guandu, São Domingos do Norte, Pancas, Águia Branca, Alto Rio Novo, Água Doce do Norte, São Gabriel da Palha, Vila Valério, Marilândia e Governador Lindenberg.

Um Salto no Tempo através do enigmático túnel nos moldes da ficção científica, em fração de segundos nos levaria a construção da Ponte de Collatina, escrita assim desse jeito conforme grafia antiga. Ou de apreciar a escavação das gigantescas galerias no Bairro Lacê, agora esquecidas nas profundezas da terra.  

De volta ao passado, o Aventureiro do Tempo de 2021, ano do Centenário de Colatina – ia dar de cara com o Dinossauro. Neca daquele bicho enorme assustador cheio de dentes afiados do Jurássico.

Aqui o Dino era um aparelho genial inventado pelo engenheiro Oscar Machado da Costa, da Construtora Soares de Sampaio.  O guindaste diferente servia para lançar vigas de aço num vôo livre na estrutura da ponte ainda inominada. A firma dinamarquesa Christiani Nielsen concretou os pilares.

 O Jornal, matutino carioca de grande circulação dedicou página inteira no domingo 8 de julho de 1928. A manchete foi garrafal.

“Uma notável obra de engenharia nacional’. Recorde sul-americano em rápida montagem de pontes". A reportagem salienta que a obra terminou dois meses antes do previsto. A impressionante eficiência do aparelho criado pelo engenheiro Oscar permitiu montar em 32 dias, 26 vãos completos.
 
 Shazam. Nas mãos dos super-heróis da vida real a Ponte de Colatina foi erigida em dois anos. Pasmem. A 2ª Ponte de Colatina demorou 21 anos para ficar pronta em 2007. Afê Maria.

-  O presidente Avidos em rápidas palavras, deu por inaugurada a ponte que media 682 metros de um extremo a outro sob 'queima de fogos e aplausos estriptosos', registrou o Diário da Manhã, de Vitória (ES) na edição de 1º de julho de 1928.  

Nas horas de folga, o solitário Turista do Futuro testemunharia o consumo de cachaça subir nas alturas.  E rolava grana. Muita grana. Uma obscura horda de malfeitores e prostitutas acompanhava atenta a tropa louca por diversão e prazeres silenciosos nas jogatinas dos cabarés de lona.

 Anos mais tarde foi batizada de Florentino Avidos, 18º governante do Espírito Santo que a mandou construir.

Sofreu uma série de reformas até chegar a moderna aparência de hoje. A  mando da Justiça, a última intervenção foi concluída em 2014 ao custo de R$ 23 milhões. Nos dois anos e oito meses de obras ganhou amplas passarelas de pedestres e ciclistas, corrimões, reforço dos  pilares além de ampliação da pista.


O governo Aristeu Aguiar (1928 a 1930) foi quem desistiu da ferrovia. Mandou arrancar os trilhos. Cobriu a ponte de tábuas com 4 metros de largura. Até 1940 o assoalho ainda era de madeira.

Já interventor militar Punaro Bley (1930 a 1943) cimentou o piso, mas passava somente um carro de vez e construiu passarelas de 80 centímetros. O sistema pare e siga era controlado por guaritas nas cabeceiras.

 Francisco Lacerda (1955 a 1959), o Chiquinho ampliou a pista em 1956 na administração do prefeito Raul Giuberti. Em 1963 é inaugurado o serviço de iluminação. Agora o burburinho da vez é a  projeção da 3ª Ponte de Colatina inda em lugar incerto e não sabido. Será que vinga?

Esmerado historiador do norte capixaba Altair Malacarne vive em São Gabriel da Palha. Ao acompanhar de perto a jornada heróica da região centenária, relembra que seu pai Francisco Malacarne avistou o bate-estaca a vapor fincando o segundo pilar da ponte quando atravessou o Rio Doce de canoa em 1926.

 Seu Chico saiu de São José da Fruteira – Atual Vargem Alta rumo ao norte capixaba. Comprou terras no córrego da Mula. Logo trouxe a família de pioneiros para São Domingos do Norte.

O professor Altair conta que para não retardar a execução, o governo contraiu uma dívida externa de 150.00 libras esterlinas junto ao Banco Itálo-Belga.

“A antecipação de receita do café foi a garantia. Os juros de 8% ao ano, segundo a prestação de contas inédita na época feita por  Florentino Avidos no Legislativo.

 As máquinas futuristas narradas por Seu Chico à luz da lamparina ficaram na memória encantada do atento menino Altair.   


“A ponte criou uma longa travessia para o futuro. Povoados surgiam da noite para dia, vilarejos expandiam a margem da estrada berço da ferrovia. Os madeireiros ficavam com as toras de graça. Ateavam fogo no restante”, destacou.

Quem falou que o trem não chegou a passar na ponte? Passou sim garante o jornalista Luiz Carlos Maduro.

Na histórica Revista Nossa  de 1987, na página 9 Maduro registrou que Generoso Spelta, antigo morador de São Silvano assistiu em 1928 a travessia da ponte da locomotiva atrelada a cinco vagões da Estrada de Ferro Vitória Minas (EFVM).

A composição partiu do centro de Colatina chegou até a outra extremidade. Na  imediação do Restaurante Drink fez a manobra no Lacê e voltou.  Passageiros do  vapor Juparanã atracado no caís na certa testemunharam a façanha, conforme a bela ilustração em aquarela concebida pelo arquiteto Frederico Freire.

O Juparanã foi maior dos navios a vapor que singrou o Rio Doce.  Foi comprado por Florentino Avidos em 1927.  No governo dele foram construidas 29 pontes e 35 estradas, ainda relevantes para a economia capixaba. 

Aficionado pelas ferrovias, o arquiteto Fred revela que o Brasil falhou ao trocar os trilhos pela rodovia nos Anos 50.

“Um erro caro ao meio ambiente, também na logística de transportes. Juscelino Kubiteschec foi um dos maiores presidentes da República, mas falhou no apoio o lobby automotivo. O resultado foi o país encalhou em 31 mil quilômetros de ferrovias. Apenas 20 mil quilômetros estão ativos, conforme dados da Confederação Nacional de Transportes (CNT)”, frisou.

Frederico é o guru do Porto Seco de Colatina, no Bairro de Maria Ortiz, dedicado ao embarque de cargas pesadas, sobretudo granito de exportação.

“O terminal de cargas está quase parado. Retrato da estagnação do meio ferroviário. O País tornou-se refém do transporte rodoviário”, atestou.

Fred diz que hoje os Estados Unidos (EUA) abriga a maior malha do mundo, estimada em 250 mil km de costa a costa em todos os estados. Exímio desenhista, Fred bolou um portal diferente para ornamentar a estação aduaneira: incrustar a sucata de locomotiva no morro de chegada do bairro industrial.


Uma ‘ponte-fantasma’ há mais de 60 anos assombra o charmoso distrito de Itapina, sítio histórico a 20 km do centro desta cidade.  A carcaça de concreto liga nada a lugar nenhum.

A ponte Florentino Avidos está estampada na bandeira e brasão do município, além de cartão postal da Cidade Centenária. Colatina celebra 100 Anos de liberdade política e administrativa em 30 de dezembro de 2021.

Números

1921 - Ano da Emancipação Política de Colatina


2021 - Festa do Centenário da Princesa do Norte


1 milhão de consumidores circulam anuamente por Colatina vindos do Norte capixaba, Leste de Minas e  Sul da Bahia atraídos pelo comércio e indústrias locais.

Curiosidade

A ligação de do engenheiro Florentino Avidos com Colatina é larga. Como a maioria dos antigos políticos capixabas passou os últimos anos de sua vida no Rio de Janeiro, capital do Brasil. Faleceu em 1956.  Teve cinco filhos com Henriqueta Monteiro. Sílvio seguiu carreira  de médico. Foi prefeito de Colatina.


 Bandeira de Colatina


Ficheiro:Bandeira-colatina.png – Wikipédia, a enciclopédia livre

Ficheiro:Bandeira-colatina.png – Wikipédia, a enciclopédia livre



O lema da bandeira é: O Trabalho Tudo Vence 

 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 
 
 
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