10/12/2021 às 05h28min - Atualizada em 10/12/2021 às 05h28min

​Usina elétrica Santa Maria Henrique Coutinho

- Por Paulo César Dutra (Cesinha)
Presente & Passado
Foto: Ilustração Web.

 
 
A cidade de Colatina e o município, apesar do seu desenvolvimento, não se compatibilizou com o processo de industrialização moderna até a década de sessenta, por falta de energia e força elétrica. A iluminação pública da cidade que crescia vertiginosamente era precária, movida a uma caldeira a vapor, semelhante das máquinas ferroviárias, nos trens de carga e passageiros da Estrada de Ferro Vitória-Minas.
 
A que fornecia a luz para a cidade, movida a lenha e água, não suportava a pressão por muito tempo, por isso, às onze horas da noite, se desligava, deixando a população às escuras.
 
As indústrias madeireiras e oleiras e outras pequenas moviam suas máquinas com motores à diesel e no interior com rodas de água, quando havia cachoeiras nas fazendas. Uma dessas fazendas, do fazendeiro Henrique Coutinho, banhada pelo rio Santa Maria do Doce, foi utilizada, com uma represa, para gerar energia elétricapara si e vizinhos.
 
O projeto deu resultado desejado com sobras, o que animou construir uma linha de transmissão até acidade de Colatina, a poucos quilômetros de distância. Com essa iniciativa, conseguiu iluminar a cidade, ganhando prestígio político junto à população.

Esse prestígio o animou a candidatar-se a prefeito, elegendo-se. Nos quatro anos de mandato, pode verificar o tamanho da demanda de energia elétrica, não só na cidade, como em todo município, em razão do surto de crescimento da população, como das necessidades comerciais das pequenas indústrias de transformação.
 
Foi uma vitória retumbante, repercutindo fielmente nosso desejo e atuação correta no seio das comunidades da sede e interior do município colatinense, ensejando em espetáculo grandiosa de civismo popular. Nas eleições seguintes de 1958, o resultado nas urnas mostrou o acerto e satisfação dos eleitores.

O município que não representava política nos poderes do Estado e da República, fez dois deputados federais, quatro estaduais e um vice-governador. Contribuíram para esses resultados, figuras de grande prestígio local: Ramon de Oliveira Neto, Senhor José Caetano Magalhães, Aristeu Carvalho, Dr. Francisco José Vervloet, Valdemar Scarton, Jorge Teixeira (da Ford), AntonioPrest, TuffiBeuchabki, Artur Coutinho e outros.
 
Infelizmente essa corrente patriótica, altamente preparada para governar o município, até o Estado, competente para conduzir a política voltada para os verdadeiros objetivos da sociedade pluralista e democrática, sofreu um duro e covarde golpe civil e militar da direita raivosa de Colatina.
 
Fomos perseguidos, cassados, torturados, presos e sofremos todos os tipos de perseguição política e física. A partir daí, a cidade e o município entraram num período de desmoronamento e atraso econômico e social, outras de produção e consumo, além de iluminação pública nos distritos e vilas do interior.
 
Uma outra queda de água no rio Pancas, próximo a cidade, também foi utilizada para elevar a produção e reforçar o suprimento da demanda. Nesse tempo (1960) a Usina Elétrica de Rio Bonito em Santa Leopoldina, estava construída e inaugurada no governo Carlos Lindenberg. Mais do que nunca, o município de Colatina, que atingia o maior índice de desenvolvimento do Estado, necessitava de energia elétrica em abundância, não só para atender aquele momento histórico de avanço econômico e social, como também para seu futuro promissor possível.
 
Diante dessa visão realista, não havia como desprezar a luta pela aquisição e transmissão da energia gerada naquela usina de Rio Bonito, integrando-a a Usina Santa Maria de propriedade dos Coutinho. Era uma questão de vida ou morte da “Princesa do Norte”, quase um processo de esgotamento de suas riquezas naturais.
 
Entendemos essa situação crítica e mais do que isso, perigosa para os destinos do município, um grupo seleto, do qual fazia parte, resolveu colocar a boca no trombone, mobilizandoe conscientizando a sociedade,sem preconceito político ideológico, com o objetivo de conquistarmos a nossa pretensão e direito de trazer a energia elétrica gerado em Rio Bonito, Santa Leopoldina, através da pressão popular legítima.

Texto extraído das páginas 53 e 54, do livro “Amargo Doce: Memórias, trincheiras e política” do meu saudoso conterrâneo e amigo Carlito Ozório publicado em 2012.
Paulo César Dutra - Cesinha

 
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