30/12/2021 às 18h24min - Atualizada em 30/12/2021 às 18h24min

Pela Lei Estadual n.º 1.307, de 30-12-1921, a vila de Linhares passou a denominar-se Colatina.

Porque a cidade recebeu o nome de Colatina

- Paulo César Dutra
Presente & Passado
Collatina Soares de Azevedo Moniz Freire. Foto: Divulgação



“Nunca será demais recontar a história que levou um engenheiro (Gabriel Emílio da Costa) a dar o nome de Colatina para o município, homenageando a mulher do Governador do Estado do Espírito Santo, José de Melo Carvalho Muniz Freire, que era conhecido politicamente como Muniz Freire. Dona Colatina Soares de Azevedo Muniz Freire nasceu no Estado de São Paulo, em 24 de dezembro de 1864. Ela era filha de Sebastião José Rodrigues de Azevedo e de dona Colatina Soares de Azevedo (filha do capitão Joaquim Celestino de Abreu Soares, o Barão de Paranapanema e sua primeira esposa, Joaquina Angélica de Oliveira.

O marido de Dona Colatina, Muniz Freire, foi governador do estado do Espírito Santo por dois mandatos, entre (1892 e 1896; 1900 a 1904), além de senador (1905 a 1914), vereador de Vitória (1883 a 1889), deputado provincial (1882 a 1883; 1888 a 1889) e deputado federal (1890 e 1892).

Dona Colatina era a neta do Barão de Paranapanema que era descendente do cavaleiro fidalgo    da Casa Del-Rey de Portugal (Dom João III), que foi Antônio  de Oliveira, 1º Feitor Real da Capitania de São Vicente, por mercê real de 1537, loco-tenente do donatário Martin Afonso de Souza.

Solteira, dona Colatina era uma bela e cobiçada jovem, profunda conhecedora do alemão, francês e italiano, além de ter dotes   para a música, pois foi discípula do famoso maestro Girondon. Sua presença abrilhantou diversos saraus palacianos, em São Paulo, inebriando, com sua melodiosa voz, quando governava a terra bandeirante o Dr. Florêncio de Abreu.

Em 28 de janeiro de 1882, casou-se com Dr. Muniz Freire, que se encaminhou com sucesso impar na política espírito-santense e que seria Presidente do Estado por duas gestões. Do seu casamento nasceram dez filhos, sendo seis homens e quatro mulheres: Izilda, José de Mello Carvalho Muniz Freire Filho, Alarico, Átila, Genserico, Olga, Dora, Ragadázio, Manoel e Ilma.

Quando foi dado o seu nome à nascente Vila Colatina, em 9 de dezembro de 1899, o ilustre desembargador Affonso Cláudio profetizava:   “esta homenagem à paulista certamente irá tornar próspera e moderna a futura cidade”.

Medalhinha de sorte

A revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo (IHGES), de 1961 e 1963, em homenagem ao centenário de aniversário de Muniz Freire, publicou uma história sobre ele e Dona Colatina. É um discurso, no IHGES, de José Paulino Alves:

“Dona Colatina, sua virtuosa consorte, mulher de progênie ilustre, de boa cepa, vinda de São Paulo, era católica… Não muito apegada ao culto; mas católica, sobretudo, por tradição de família.


Na vida dela, sempre escorreita, e já, agora, enobrecida, na vivência conjugal, não haveria jamais passado, quente e maléfico, influxo da descrença. Vida sempre adornada de virtudes, desde os tempos de colégio, nunca sofreram o assédio da dúvida, que atormenta. Católica; educada no temor de Deus, que, como é das letras sagradas, se insinua feito princípio da sabedoria, (initium sapientiae, timor domini) – Dona Colatina, vez nenhuma tivera hesitações… Carola não! Nada de apego à má parte, aos excessos de devoção; mas, em tudo, muito equilíbrio, como grande mulher paulistana que o era.

Possível fora que jamais sofresse as crises interiores, – crer ou deixar de crer _ nesse estado de inquietação possível, que maltrataram sempre, com uma ou outra das alternativas… Às vezes, a cultura ocorre, como processo desagregador. E dói, dói muito… Ma era católica. Católica, desde o berço. Era católica, e católica continuava a ser… Havia um dia, no ano em que não deixava de ir à igreja: adoração do Santíssimo (Quinta-feira Santa).

Dona Colatina tinha uma medalhinha da Virgem, medalhinha toda de ouro maciço, presente da avozinha dela. Quando o Dr. Muniz Freire viajava, fazia questão que levasse consigo essa peça de metal, intrínseca e extrínsecamente preciosa, para o proteger. O Dr. Muniz Freire sempre dizia que sim. Assentia, sempre a sorrir. E, quando voltava das viagens, que, quase sempre, eram de curta duração, não deixava de dar benevolente grado à fortuna; graças à fé, aquela fé, afervorada e bela, sempre o céu se lhe mostraram propício.E, como era nobre, corretíssimo, na maneira de agradecer à espôsa tanta ternura e tantos cuidados!

Duma feita, porém, saiu com o Dr. Inácio F. de Oliveira, para inspeção às obras da Estrada de Ferro Sul do Espírito Santo, fulgurante iniciativa do seu governo. Esquecera-se de pedir a medalhinha… Já quando se encontrava no Cais do Imperador, para tomar o barco que o devia transportar ao continente, eis que lhe vem à lembrança… E a medalhinha? Mas Dona Colatina não houvera esquecido: trazia-a consigo. Entregou-lhe. E, beijando-a com enternecido afeto, o Dr. Muniz Freire modalizou a voz na inflexão necessária à ênfase do que dizia:

– És santa, Colatina! Santa Colatina, sem dúvida!

Era assim o Dr. Muniz Freire; homem que a natureza singularizou de dons; era assim à Littré: culto, nobre, delicado…”

Carta do filho Ragadázio 

Ainda segundo a revista do IHGES, “o filho de Dona Colatina e Muniz Freire, Ragadázio, escreve uma carta ao Dr. José Paulino Alves. Ele faz várias observações sobre o conteúdo do discurso, entre elas, a do episódio da medalha: (1º, 2º …)

3º – Quanto “ao episódio”, por si narrado, da medalhinha da Virgem, era por mim desconhecida, o mesmo acontecendo com todos os meus irmãos, que por mim consultados, igualmente, o ignoravam.

Desejaria saber a fonte em que se inspirou a sua narração.

4º – dia em que, anualmente, minha mãe comparecia à Igreja, era o dia 19 de março, porque nele praticava uma tríplice homenagem: a) ao padroeiro do dia; b) ao marido, cujo nome era José; c) à memória de seu pai por haver este falecido a 19 de março de 1882. Devo acrescentar que no fim da vida, não perdia a Missa aos domingos;

5º – A minha avó, tinha o nome de Colatina. Ela é que, todas as quintas-feiras, ir à igreja “guardar o santíssimo, não tendo, entretanto, por obrigatório o seu comparecimento aos domingos”.

Entretanto, em Post scriptum, acrescenta: “A minha irmã Dora disse ter conhecimento do episódio da medalha, por a ter


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